domingo, 10 de janeiro de 2010

O brilho de Emma

Ela abriu devagar a porta da biblioteca, e ao olhar para dentro viu James sentado em uma poltrona de frente para a lareira. Estava meio escuro, mas era claro o bastante para ele poder ler o jornal, ele tinha uma xícara de chá a sua direita, e estava usando um roupão vermelho, já era quase meia-noite e ela não queria incomodá-lo, era só mais uma empregada, com suas roupas discretas, e com um coque alto na cabeça, mas era impossível não ir fala com ele sobre isso. A governanta havia mandado ela ali, a única que poderia agüentar os insultos do patrão.
- Com licença senhor Nichols - ela falou baixo, mas ele a ouviu - a senhorita Malone está com sua carruagem ai em frente a casa, podemos abrir a porta para ela?
Ele a olhou interrogativamente.
- Mas o que ela está fazendo a essa hora? Já está tarde! - ele falou com a voz um pouco agressiva.
- Eu... Eu sei - ela deu uma leve gaguejada - mas ela disse que esse assunto só pode ser tratado com o senhor, eu tentei informa-la que o senhor não podia ser incomodado, mas ela disse que era urgente.
- Ora, mais essa agora, vizinhos que se aproveitam de nós, damos um pedaço de corda e eles já querem ela inteira - ele se levantou deixando o jornal na poltrona do lado esquerdo - qual é o seu nome mesmo?
Ele sempre esquecia o nome dela, e ela trabalhava a quase um ano ali, a governanta dizia que ela não precisava se preocupar com isso, ela só era mais uma serviçal.
- Sou a Emma senhor - ela olhou envergonhada para ele, ela sentia certa atração por aquele homem ranzinza, mas era só mais uma empregada, mais uma para que os outros pudessem pisar em cima.
- Então Emma, abra as portas para a senhorita Malone, e diga para ela subir aqui.
- Sim senhor - ela falou quase fazendo uma reverência.
- E Emma - ela já estava saindo da biblioteca e virou-se para ver o que ele queria - solte esses cabelos, tão jovem e ao mesmo tempo tão velha.
- Sim senhor Nichols - quem ele achava que ele era? O dono de todos? De certo modo quem sabe, mas não dono dela, ele podia mandar em todos os empregados que ele quisesse, mas ela não iria soltar os cabelos dela, era horrível trabalhar com eles soltos.
Foi até o haal, e avisou a governanta que ela poderia manda a senhorita Malone entrar.
- Abra a porta para ela Emma - a senhora Devils, a governanta mandou - está muito frio para uma velha como eu sair lá fora, vá ligeiro menina.
Abriu a grande porta do casarão do senhor Nichols, e saiu correndo até a carruagem da senhorita Malone.
- Senhorita, o senhor Nichols disse que você pode entrar, vamos rápido que está frio e escuro aqui fora.
- Quanto atrevimento dessa criada não é senhor Johnson? - ela falou com aquela voz de quem pode fazer o que quiser com tudo e todos - com licença mocinha, deixe-nos passar.
Emma saiu da porta da carruagem, e deu a mão para a senhorita Malone, e depois dela saiu o homem que ela havia chamado de senhor Johnson, James iria ficar bravo com ela por deixar um desconhecido entrar em casa, mas ela nada podia fazer a esse respeito.
Depois de entrarem no calor grande casarão, a senhorita Malone pediu que lhe trouxessem uma xícara de chá, pois estava com um muito frio por ter ficado tanto tempo esperando em frente à casa.
- O senhor Nichols está esperando vocês na biblioteca, por favor, me acompanhem – Emma subiu as escadas e os visitantes a seguiram.
Ela abriu a porta da biblioteca e os dois entraram.
- Não esqueça do meu chá, por favor, sim? – a senhorita Malone falou.
- Não esquecerei senhorita.
Ela fechou a porta devagar e ouviu os murmúrios da senhorita Malone:
- Que criadagem rebelde você tem James....
 Emma não aguentava mais aquele trabalho e nem aquele lugar, todos mandando nela, como se ela fosse um fantoche, ela desceu as escadas correndo e foi até a cozinha, preparou um chá bem doce para a senhorita Malone, pra ver se assim a amargura dela evaporava junto com a fumaça quente do chá holandês, subiu novamente a enorme escada, bateu duas vezes na porta e ouviu em troca algumas palavras áperas.
- Quem é agora? - James falou curto e grosso.
- É a Emma com o chá da senhorita Malone - ela falou com a voz um pouco assustada.
- Entre, mas seja rápida.
Emma entrou, e com passos rápidos foi até a mulher que havia estragado a sua noite tranquila.
- Senhor Nichols, o senhor também vai querer chá? - ela perguntou antes de servir a senhorita Malone.
- Não Emma, muito obrigado.
- E você senhor Johnson? - ela falou temendo a resposta daquele homem sombrio.
Ele respondeu negativamente com a cabeça, como se quisesse dizer que as palavras não foram feitas para ser gastas com pessoas de "nível" menor que o dele.
Emma foi devagar até a senhorita Malone, mas antes de chegar na xícara dela tropeçou no pé do senhor Johnson, aquele miserável havia sido ruim o bastante para fazer isso, e com aquele grande tropeço Emma derrubou chá quente no fino e caro vestido da senhorita Malone.
- Perdoe-me senhorita, foi el... - ela falou as últimas palavras em tom tão baixo que só ela pode ouvir, parou quando do olhou para os olhos escuros e maléficos do senhor Johnson.
- Sua imprestável, criadinha inútil - a senhorita Malone se levantou e gritou isso nos ouvidos de Emma - limpe meu vestido agora, olhe o que você fez, pensa que eu sou qualquer uma, dê um jeito nisso, senhor Nichols, você já percebeu o tipo de gente que trabalha para o senhor?
- Senhorita Malone e Senhor Johnson, está tarde, acho melhor vocês irem embora, nosso assunto pode ser tratado outra hora, e você mocinha, limpe a bagunça que você fez, e leve nossos vizinhos até a porta.
- Farei isso Senhor - Emma falou de cabeça baixa, vermelha de tanta humilhação.
Ela levou eles até a carruagem, a governanta já havia ido dormir, ainda bem, era capaz de ela despedi-la se soubesse o que havia feito. Foi até a biblioteca avisar James que já havia feito o que ele mandou, e perguntar se não queria mais nada antes de dormir.
- Senhor Nichols, com licença - ela entrou na biblioteca sem esperar a resposta.
- Estou aqui - ele falou com a cabeça por trás de algum dos livros preferidos dele.
- Queria ver se o senhor não quer mais nada.... - ela deixou as palavras no ar.
- Não, você já pode dormir, eu estou indo daqui a pouco - ele falou com os olhos ainda grudados no livro.
Passou-se alguns segundos sem que Emma se mexesse.
- Adoro esse livro, o amor deles parece tão puro e ao mesmo tempo tão impossível - ela falou apontando para O morro dos ventos uivantes que estava na mão do senhor Nichols - Boa noite.
Ele olhou para ela com admiração, poucos dos empregados dele sabiam ler, e os que sabiam não conseguiam entender ou ler um livro como O morro dos ventos uivantes.
- Boa noite - ele sussurou, mas ela já havia saido.
Emma deitou-se na sua cama e ficou acordada durante alguns minutos sem conseguir dormir, pensando naquele homem tão opaco, mas com algo que as vezes brilhava nele. Enfim adormeceu, sonhando com o dia que seria a dona daquele lugar.

3 comentários:

  1. Obg pelo comentario no meu blog.
    O texto está muito legal
    :*

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  2. Gostei muito do texto, parabéns :*

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  3. Eu queria ter o dom para escrever histórias, assim... Não consigo! rs. Parabéns!

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Nunca sabemos de tudo.

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