Ele ria alto, como se estivéssemos saindo para o parque de diversões, mamãe eu tentava não rir, mas era díficil, tudo estava indo tão bem que eu quase não acreditava.
- Cala a boca, cala a boca - eu falei num cochicho em meio as risadas
- Calma, calma, não estressa - ele falou em um tom quase irônico.
Minhas mãos suavam, eu tremia, e estava toda desconcertada com todas aquelas malas, tentava descer a janela da nossa casa, mamãe. Você tinha o sono leve, e meu namorado não estava ajudando muito com aquelas risadas altas, podia jurar que senti cheiro de álcool em sua boca quando ele me beijou antes de descermos pela árvore, mas agora isso não importava, estava só a alguns passos da minha liberdade, iria finalmente sair desse casulo tolo que você montou ao meu redor, tudo iria ser bem mais fácil agora, eu já tinha quase 18 anos e meus problemas iriam se resolver mais facilmente de agora em diante, festas, dormir tarde, namorar, me divertir, o que eu quiser, a hora que eu quiser.
Pelo menos era assim que eu pensava alguns meses antes da minha vida ir em ruínas, a minha tão sonhada liberdade me aprisionou ao invés de me libertar, mamãe eu fui burra, burra por acreditar em coisas que nunca aconteceriam. Agora daria tudo para estar em casa, em baixo do meu cobertor no meu quarto quente e confortável, e não aqui nesse cubículo que meu namorado arranjou pra mim, queria poder estar no primeiro semestre da faculdade , mas isso seria demais comparando com os meus quase quatro meses de gravidez, hoje eu posso dizer que eu fui tola e fiquei encantada com uma coisa que jamais existiu para mim, a liberdade.
Larguei a única pessoa que daria a vida por mim, você mãe, e como eu gostaria de me sentir protegida novamente, estar em seus braços como se fosse um bebê, e não aqui, ao lado de uma pessoa que não me ama, e não quer nada comigo além de sexo, queria ter para onde ir, eu iria para qualquer lugar, embaixo da ponte, uma caixa de papelão ou até mesmo voltaria pros seus braços mamãe, mas não tenho coragem, não sou forte o bastante. Como dói o orgulho para mim, é quase uma dor física, poderia me ajoelhar implorando perdão para você, mas a rejeição seria o pior castigo que alguém poderia me dar, mas será que você, a mulher que daria vida por mim rejeitaria a filha e o neto?
Para obter essa resposta eu daria tudo o que eu tenho agora, o que é quase nada, mas mesmo assim valhe alguma coisa, ah, minha doce mãe, como eu queria estar em seus braços como seu fosse um bebê, o seu bebê, não queria estar me preucupando com o meu filho, um criança cuidando de outra criança, essa não é a liberdade que eu tanto sonhei, quero implorar de volta o tolo casulo que a senhora montou ao meu redor, e que eu sem tato algum destrui, queria discar o seu número de telefone agora mesmo mamãe, mas me falta coragem, sou covarde, e perdi a minha liberdade por que eu queria a liberdade, que filosofia mais triste, eu sei.
Mamãe, estou lhe mandando esta carta, para lhe mostrar que tenho ao menos um pouco de amor próprio, não quero que a senhora sinta pena de mim, e por favor não se entristeça, eu sou sua filha lembra? A sua pequena pricesinha, eu sei que esse não é o futuro que a senhora sonhou para mim, mas isso é o melhor que eu posso fazer no momento, e lhe mandar uma carta foi uma das formas mais fáceis de lhe dizer todas essas coisas, saiba que eu te amo mamãe, mais do que tudo e todos, só ganha de você o filho que trago no ventre, espero que você o ame tanto quanto eu te amo.
Beijos de sua eterna Princesinha.
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