sábado, 28 de novembro de 2009

Um jardim com um leve toque em uma porta

Helen desceu as escadas como se aquela fosse a última vez que poderia correr para atender a porta, seus cabelos em cachos se mechiam a cada passo e seu olhar brilhava tamanha era a animação. Era um milagre alguém aparecer em um dia de semana na sua casa, a sua vida passava monotamente, ela nem se lembrava qual a última vez que havia olhado um calendário, as horas para ela pouco importavam, e ninguém poderia dizer o que ela podia ou não fazer.
Com muita euforia ela abriu a porta, já sabia quem era, mas mesmo assim não podia deixar de sentir animada em poder ver uma pessoa diferente daquelas que via todos os dias no seu velho casarão. Sentia saudades dos abraços da mãe, e da sabedoria do pai, mas já convivia com isso a muito tempo, tempo demais para se lamentar só agora. Havia aprendido quase a força, que a morte existe sim, e que mesmo com seus dezenove anos poderia viver como uma criança, mesmo com todas aquelas terras e toda aquela herança não precisava se preucupar com mais nada além de levantar cedo, comer, viver e dormir. Afinal, era para isso que existiam os tutores, o seu em especial se chamava Joseph, e ela o esperava com muita agitação o mês inteiro afim de conversar com alguém que poderia lhe ensinar alguma coisa que não fosse cuidar da casa, pois ela sabia que no futuro não precisaria disso, pelo menos era assim que seus pais visualizaram seu futuro antes de morrerem.
Joseph era o melhor amigo de seu pai, e era também tão rico quanto ele. Joseph vinha pelo menos duas vezes ao mês visita-la, não fazia muito desde sua última visita, mas que mal teria mais uma não é?
Mas ao abrir a porta não foi com Joseph que Helen se deparou e sim com Thomas, ele que um dia quando criança esteve em sua casa brincando com ela inocentemente nos jardins do casarão.
Seus olhares se encontraram e tudo aconteceu com uma telepatia que é impossível descrever em palavras, ele deu uma risada leve, desfazendo toda a tensão que poderia existir, ela levantou os olhos de uma maneira doce e encabulada ficando ruborizada, mas não se importou, ele riu mais alto, mas ainda levemente, como se o rubor de Helen fosse tão único quanto uma jóia rara, pegou a mão dela delicadamente como se pudesse quebrar se fosse tocada mais bruscamente. Então com uma voz um pouco rouca pelo nervosismo falou como se fosse um convite para eternidade:
- Que tal uma volta no jardim?
E ela respondeu como se ele estivesse a pedindo em casamento:
- Acho que é bom demais pra ser verdade.
Então foram, esquecendo do mundo, das pessoas, e da vida que existe por trás de todos os corpos do universo. No fim aquele jardim guardou mais segredos que qualquer outra pessoa sem amor possa imaginar, afinal, tudo pode acontecer, e nunca devemos deixar de valorizar todos que batem a nossa porta, independente de quem e quando, pois um dia podemos estar por ai, mendigando uma porta para bater.


                                                                           Imagem: Google

2 comentários:

  1. É importante saber que quando batem a sua porta, poderão haver consequências. Mas também nunca devemos ficar pensando "e se...?"

    Por isso eu já quebrei muito a cara, mas nunca deixei de "abrir a porta" para alguém que julguei ser especial.

    Teu blog é lindo =)

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  2. É verdade, acho que também não devemos ficar abrindo a porta pro primeiro que aparecer, obrigada, e beijão pra você Beatriz :*

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Nunca sabemos de tudo.

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