sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Os mistérios de Jane Seymour

- Tchau! - Crispin falou ameaçador, com uma arma na mão segurando o gatilho com força.
- O quê?! Não eu... Eu nem sei quem você é! – Paula bradou desesperada.
- Mas eu sei, dê adeus a esse mundo – e sem mais palavras nem dela e nem dele, a bala da arma cravou-se no coração de Paula, caída no chão ela viu o que era a morte.

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Sua alma não estava mais ali, ela conseguia olhar ao seu redor, onde via um enorme salão, com paredes pretas, um chão e um teto brancos e duas poltronas azuis berrantes vazias ao meio.
Paula não era mais de osso, Paula não era mais de carne, estava invisível, mas podia sentir-se ali.
- Oi Paula! – uma voz animada veio do meio do salão, mas ela não via ninguém.
- O... Oi, onde eu estou? – a cabeça de Paula, se ela ande tivesse uma estaria girando, mas agora ela só se sentia confusa.
- Um dia você vai descobrir, mas hoje não temos tempo para isso – alguns segundos se passaram e Paula nada falou -, você não vai perguntar mais nada?
O silêncio ainda pairava
- Então se sente que vou explicar sua missão.
- Missão? Mas eu não posso nem te ver, e muito menos tenho corpo para sentar!
- Me ver é o de menos, o importante é me ouvir, e bom... As poltronas são ordens do chefe, mas se você não quiser sentar não precisa.
- Ok, mas... Como você sabe que eu sou a Paula? Disse o meu nome quando eu cheguei... – ela ainda estava confusa.
- Ah, eu sei de tudo sobre os que chegam aqui, tudo mesmo.
- Você é São Pedro ou algo parecido? – Paula tentou adivinhar, sem o sucesso desejado.
- HAHAHAHA, quem me dera ser São Pedro, ou qualquer outra coisa parecida, por que quem sabe sendo santo as coisas seriam mais fáceis.
- Então quem é você?
- Bom primeiro me diga quem é você?
- Eu? Bom... Eu sou a Paula.
- Já que isso é tudo que você sabe sobre si mesma Paula vamos te dar outro corpo. Uma nova chance de viver, pois você foi morta injustamente. Nessa nova chance você vai voltar ao passado, para ser mais exato, alguns séculos. Nele você vai ser importante e as pessoas vão ouvir o que você tem a dizer, por favor, faça bom uso desse corpo e mude as coisas para melhor. Tchau!
E pela segunda vez naquele mesmo dia sua alma saiu do lugar em que estava com alguém dando lhe tchau sem maiores explicações.

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Sentiu-se tonta, e tudo girava ao seu redor. E como se tivesse um corpo teve uma alucinação de ter erguido a cabeça.
- Jane, Jane acorde – uma voz feminina veio de algum lugar, mas Paula não conseguia definir qual.
As coisa foram se assentando em sua cabeça, até ela conseguir ver a luz por entre a vidraça monumental que estava em sua frente.
- Jane, Jane, você quer que eu chame Senhora Ana Bolena? – a voz estava nervosa, como se a tal da Ana Bolena pudesse mudar o latejar de sua cabeça.
- Quem é Ana Bolena? E quem é Jane?
- Ó senhor, ela está com problema de memória, com licença lady Seymour, vou chamar a Senhora Ana agora mesmo – Paula olhou pela primeira vez para aquela mulher, era meio cheia, tinha na cabeça um pano de lavadeira, e estava vestida com algo totalmente fora de moda, uma cor desgastada e sem vida, saiu resmungando algo parecido com “e agora o que vai ser de minha senhorinha”, Paula olhou ao seu redor e se viu em cima de um tapete marrom, em uma sala de pedra, havia em torno de quinze camas de madeira naquela sala, Paula achava que se encontrava dentro de um museu ou algo parecido. Tinha que sair dali.
Levantou-se, e viu quem em cada cama dormia uma moça, todas brancas e delicadas, algumas ruivas, outras loiras, quase nenhuma morena. Algumas camas ainda estavam vazias, ficou olhando para aquela cena por algum tempo, e viu que para cada moça tinha um baú de madeira, tudo era estranho, estranho e novo.
Deu as costas para tudo aquilo e foi até a grande porta de madeira que havia em um dos cantos do salão, abrindo-a.
Ao colocar a cara pra fora se viu em um gigantesco corredor de pedra, com paredes com quadros e vidraças do século passado, será que o estranho do salão das poltronas azuis havia falado sério, resolveu olhar para seu corpo, e então viu que aquilo tudo não era seu, a pele branca e sensível, puxou o cabelo para ver como era e...
- Socorro – ela deu um grito estrondoso -, eu sou ruiva! – ela choramingou por fim.
Aquilo não podia ser real, tudo bem, o sonho dela era ser ruiva, mas ela gostava de ser a Paula, ela gostava de ser morena, ela gostava da própria vida!
- Senhorita Jane, senhorita Jane! – a mesma mulher de antes vinha em sua direção – senhorita Jane, eu trouxe a ama da Rainha Ana, por favor, se acalme, vamos levá-la até ela.
Paula... ou Jane, não havia notado, mas ela estava vermelha, lágrimas corriam por seus olhos e... Quem era aquele homem?
Jane baixou a cabeça enquanto ele passava, envergonhada pela cena que estava fazendo, ele era lindo, um pouco velho, mas ainda assim lindo.
As duas mulheres que estavam ao seu lado fizeram uma inclinação quando ele passou, Jane ainda descobriria por que.
Ele já havia quase passado por elas quando deu uma parada de susto e voltou.
- Posso saber o que as três damas fazem ao raiar do dia passeando por ai? – ele perguntou simpaticamente.
- Senhor, a ama de Jane chamou sua rainha por que sua senhora estava passando mal, a rainha Ana me mandou vir no lugar dela, ela não estava em condições no momento.
- Quem são vocês? – eu perguntei sem nenhum medo, eles achavam que estavam fazendo um encenação de “A rainha” ou o quê?
O homem com cara de galã ficou vermelho, e eu vi a raiva subindo ao seu rosto.
- Quem sou eu? Você pergunta quem sou eu? – ele me perguntou olhando em meus olhos.
Diminui alguns centímetros com aquela acusação, e com seu tom mandão.
- Me desculpe Senhor, a senhorita Jane caiu hoje ao acordar, encontrei ela no chão da sala das damas da rainha, ela não lembrava do próprio nome e nem de quem era nossa rainha.
- Ela é a filha do Sir John Seymour não é?
- Sim meu senhor.
- Então leve ela até o grande salão e de algo para beber, e depois ela precisará se alimentar, e você, - ele deu um olhar de esguelha para a outra mulher que estava com a minha ama – volte para sua rainha.
Então se foi. Jane viu ele desaparecer no corredor e olhou para a mulher que se dizia sua ama.
- Qual é o seu nome?
- Meu nome? Eu te criei e você não sabe nem meu nome? Sou a Teresa senhorita Jane.
- Então, Teresa, em que ano nós estamos?
- Estamos em Março de 1536 senhorita Jane.
- E quem era aquele homem que acabou de conversar com nós? – Jane perguntou inocentemente.
Mas Teresa olhou pasma para ela.
- Aquele homem senhorita Jane... Aquele homem era o nosso rei, o senhor Henrique VIII.
Jane se via tonta e ao mesmo tempo fascinada com todo aquele mundo, todas as damas da rainha eram fúteis e melindrosas, como cobras. Cada uma com um ama, e aqueles baús em frente as camas ela descobriu depois que eram como os guarda-roupas de cada uma delas, pois cada vez que mudavam de castelo tinham que ter tudo sempre a mão.
Jane não conseguia se acostumar ao banheiro nem aos banhos semanais, descobriu que algumas mulheres tomavam banhos uma ou duas vezes ao ano, e passavam perfume para disfarçar o cheiro ruim.
A rainha Ana Bolena era mãe de somente uma filha, não tinha descendentes homens, havia tido um filho em janeiro daquele mesmo ano, mas ele faleceu logo após nascer. Todas as víboras da rainha, pois era assim que Jane pensava nas damas, falavam que a rainha tinha um amante, seu próprio irmão; Jorge Bolena.
Para Jane aquilo era ridículo, pois ninguém em sã consciência faria nada de excepcional com seu próprio irmão, principalmente sendo rainha.
Nos bailes, as vezes Jane notava que o rei dava algumas olhadas para ela. Mas nunca o convidou a dançar. Graças a Deus, pois Jane não sabia.
Em uma noite após o baile Henrique VIII parou-a em um corredor que tinha como luz apenas as chamas de algumas velas em castiçais.
- Posso falar com você senhorita Jane Seymour – aquilo não era exatamente uma pergunta.
- Claro senhor – naquelas poucas semanas ali, Jane já havia aprendido que nunca se nega nada ao rei, nada mesmo.
Ele levou-a até um quarto desabitado e fizeram amor ali até raiar o dia. Jane se sentia feliz, mas ao mesmo tempo usada, mas não podia fazer nada, ele era rei... E ela só era virgem naquele corpo, no outro ela tinha vinte e três anos e não quatorze.
Em Maio daquele mesmo ano um grande “babado”, como diria Jane, ou Paula em outras épocas estourou.
A rainha Ana Bolena foi presa na torre de Londres por trair o rei com o seu irmão Jorge Bolena. No final as víboras estavam certas, Ana era mesmo traidora. E não só Ana, todos na corte também sabiam que o rei tinha milhares de amantes, mas o rei é o rei, e a rainha, a rainha.
Seus encontros com rei vinham aumentando a cada dia, e ela não podia mais esconder de ninguém. O rei a pediu em casamento enquanto Ana estava prisioneira na torre.
- Mas eu não posso senhor, a rainha está viva, eu não posso me casar com você...
- Pode sim doce Jane, já mandei anular meu casamento, e mataremos Ana Bolena, ela foi infiel e não me merece, não merece a mais ninguém.
Uma expressão de choque passou rapidamente pelo rosto de Jane, mas logo depois ela cedeu à Henrique Tudor, iria ser uma rainha.
Ana Bolena foi morta dia 15 de maio de 1536, e seu casamento com o rei foi anulado.
Duas semanas depois de sua morte Jane casou-se e virou a rainha. Ela não tinha amizades masculinas, pois ela era Paula, e era o contrário de tudo que Ana Bolena jamais foi.
Jane teria que dar um herdeiro ao Henrique então em outubro de 1537 deu à luz a Eduardo VI. Duas semanas após do parto Jane morreu com uma febre puerperal.

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Então ela viu novamente tudo rodar e estava de novo no grande salão das poltronas azuis berrantes.
Dessa vez, porém ela tinha um corpo. Estava com o corpo de Jane, encontrava-se sozinha, naquele lugar medonho.
- Então Paula – ela ouviu uma voz mais monótona do que da outra vez – ou seria Jane? O que achou de sua nova vida.
Dessa vez Paula... ou Jane, não poupou palavras.
- Por que você me mandou para o corpo de Jane? Por que ela? Por que ao passado?
- Você não percebeu que foi você que deu a luz ao rei da Inglaterra? Sem ele os Tudor morreriam ali, ou nesse caso sem você. O rei viu você no corredor naquele dia em que estava chorando, e foi ali que tudo começou, com a Paula, e não a Jane.
- Então, eu fui uma peça qualquer não é? Só pra parir um filho?
- Talvez sim, talvez não... Você decide se foi feliz, mas te demos uma segunda chance. E você a aproveitou, muito bem, diga-se de passagem. Ficou na história Paula, vão se lembrar de você para sempre.
Paula ficou pensando naquelas palavras, era verdade, ela havia recebido uma segunda chance e sido feliz, mas no meio daquele pensamento, tudo ao seu redor sumiu, e ela não estava mais ali...
 
Por esse texto agradeço as informações dos livros de Bertrice Small e da nossa queridíssima Wikipédia.
Jane Seymour
Ana Bolena
Eduardo VI
Henrique VIII

Um comentário:

Nunca sabemos de tudo.

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