sábado, 19 de junho de 2010

Quatro vidas

08h23min da manhã

Bino caminhava trôpego pela rua, era domingo de manhã, havia acordado mais uma vez na calçada, jogado em uma rua qualquer. Percebeu-se com a blusa manchada de sangue, o cabelo continuava intacto em seu sempre "original" topete ruivo e ainda mantinha o cavanhaque levemente sedutor.
Não sabia definir o que havia acontecido na noite anterior. Poderia ter tentado abusar de alguma mulher, o que não seria a primeira vez, estranhas como as mulheres são hoje em dia ela ou elas teriam batido nele, o sangue pelo menos teria uma explicação.
Sua cabeça latejava, lembrava o som de besouros. Não sabia o que tinha feito, e só tinha uma certeza, também não sabia para onde estava indo.

10h00min da manhã

Tinha sido uma noite cansativa para Calunga, estava trabalhando como um escravo na rede de seguranças mais forte de São Paulo, a boate da noite anterior estava tão cheia e exaustivamente barulhenta que o trabalho começou a ser levado para casa.
Uma mulher totalmente maluca e com cara de doente se agarrou em outra dizendo que era pra ela largar o cara com quem ela estava dançando. Um homenzinho com um cavanhaque ridículo que ficou dando trela pra mulher louca e concordando quando ela dizia que ele era o Brad Pitt. As duas mulheres ficaram enlouquecidas juntas e se pegaram no tapa quando o homenzinho saiu deixando as duas sozinhas. A mulher com cara de doente resolveu ir atrás do tal homem depois que Calunga apartou a briga delas. Ela deu uma surra no tal do Brad Pitt de mentira. Ele ficou tão mal que o dono da boate mandou Calunga levar ele pra casa e tirar o resto da noite de folga para cuidar do homem e não criar problemas com a polícia.
Seu colega de apartamento não ficou nada feliz quando ele chegou com o homem todo ensaguentado dentro de casa, o homem do cavanhaque havia vomitado em cima das folhas da última reunião dos AA que o colega era presidente.
Sabia que se o colega aguentava o barulho inquietante 24h. por dia de seus 2000 mil besouros sul-asiáticos, então comprar uma briga não seria nada simpatico, que culpa tinha Calunga se colecionar insetos era seu forte e sua renda era ser forte?
O pior de tudo é que o homem ensanguentado do cavanhaque havia sumido, era dez da manhã e Calunga pensava que o homem pelo menos poderia ter dito obrigado. Fazer o que, devia ter se assustado ao acordar em uma casa estranha.

13h20min da tarde

Não ajudava em nada ter insônia para Thalita, chegava sempre ao ápice do estresse nas noites em que não havia mais nada para fazer, estudante do segundo ano em publicidade tinha um fraco desnecessário por famosos, mais de mil fotos do Brad Pitt e uma tensão exageradamente acumulada.
Normalmente saia no sábado à noite para dar uma esfriada, dançar um pouco e achar alguém minimamente interessante, principalmente se se a noite estivesse para insônia.
É verdade que havia bebido um pouco demais na noite anterior, o que sempre gera confusão. Na sua mente sobravam alguns vestígios de que fora expulsa da boate, e que teve uma briga com alguém, mas poderia ser só simples imaginação, se bem que teria colocado em prática os três anos de Box que havia feito.

07h05min da manhã

Aquele zumbido chato e incessante, o modo calmo e complacente de Calunga lidar com tudo e as noções ordinárias de higiene que ele tinha levavam Arselio a loucura.
Na última noite Calunga havia levado para o apartamento um bebado, Arselio o conhecia de outras épocas, quando ainda saia para "trançar" algumas. O homem um tal de Bruno, Breno, ou sei lá, era o rei da charlataria barata e desclassificada. Em menos de um minuto podia fazer coma que todas as mulheres a sua frente saissem ou ficassem para sempre. Contava mais lorota do que pai de santo, e ontem estava ali, deitado ao lado do vidro de besouros, Arselio sabia que ele ia acordar com uma dor de cabeça desgraçada, bem feita, quem mandou vomitar nos formulários dos AA? Teria que pedir outros e não era fácil fazer com que os “amiguinhos" anônimos assinassem aquilo, começando pelo fato de que teriam que estar sãos.
Arselio tirou o homem o charlatão pra fora antes de Calunga acordar, seria um problema a menos para aquela manhã de domingo, foi fácil colocar o homem em uma ruela qualquer sem que ele acordasse.
Agora só tinha que achar outro apartamento pra morar, de preferência em que o colega de apartamento não tivesse uma tara por insetos nojentos.

2 comentários:

  1. Ai Ale... Sempre incrível.

    Cenários bem desenhados. Sentimentos bem dispostos. Incrível. Gostei muito do modo que desenhou tudo.

    Grande Beijo

    ResponderExcluir
  2. Intrigante essa história, gostei. Você escreve muito bem, mas isso você já deve ouvir sempre.
    Eu andei sumida, mas postei e tem mais um selo pra você. ^^
    Beijos!

    ResponderExcluir

Nunca sabemos de tudo.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...