quarta-feira, 1 de setembro de 2010

A verdade sobre o amor

A carta estava em cima da mesa esperando para ser aberta por mim há pelo menos meia hora, em um de seus lados havia meu nome em um garrancho escuro e mal feito: "Destinatário: Helena Monaretto". E no outro a mesma letra com o nome dele: "Remetente: Marcus Neves". Como era cruel olhar para aquela carta e saber que ele já havia passado as mãos por ali, que a havia tocado. E se tivesse um pouco de compaixão mostrado amor em suas palavras. 
Eu queria voltar no tempo, voltar para seus braços e para seu calor. Sentia saudades de Marcus, uma saudade irritante, que doía fisicamente, me fazia sentir raiva por ama-lo, me fazia odiar por acreditar em suas palavras.

* * *

6 MESES ATRÁS

* * *

"Você pode se surpreender com as pessoas", foi isso que Marcus disse quando conheceu Helena, ele estava sendo doce, gentil e em menos de alguns instantes ela já havia se apaixonado, e por que uma frase faria a diferença? O que aquela frase poderia fazer com os sentimentos de Helena? Muda-los? Com certeza não. 
Helena ficou cega, cega por algo desconhecido, pelo que ela achava que era a verdade. Seu amor crescia como uma flor, germinava e era regado pelas palavras de Marcus, recebendo como luz solar o brilho de seus olhos castanhos.
Marcus a seduziu, Helena, uma romântica incorrigível acreditou em todas as palavras que saiam dos lábios sempre suaves de Marcus. Ela estava tão apaixonada que daria a vida pelo seu amor, ou pelo que ela achava que era amor.
Para Helena quatro meses era mais tempo do que já havia passado com qualquer outra pessoa, e pensava que sabia tudo sobre Marcus, bom se ela conhecia, a cor e a comida preferida dele, sabia do que gostava, do que não gostava, sabia do que ele sentia medo, o que havia mais para descobrir sobre ele? 
Ela não tinha medo de se surpreender, ela confiava nele.
Em uma manhã fria de outono, ela foi até a casa dele, estava entrando no velho e encardido prédio de Marcus, quando antes mesmo de chegar em sua casa, ouviu sua voz.
Sim, com certeza era ele, na escada de emergência do prédio, pelo jeito de falar tentava convencer alguém de alguma coisa. Helena ouviu com mais atenção, a outra voz era de mulher, soava manhosa. Já tensa, Helena abriu a porta para a escada, e com um choque ainda maior viu que era com certeza Marcus, em seu coração ela ainda acreditava que não fosse ele, queria que não fosse ele. 
Ao seu lado uma mulher ruiva, com lábios finos e frios sorria com desdém.
Helena sorriu de volta, um sorriso com lágrimas, um sorriso mais frio do que o da ruiva na sua frente, não esperou mais nada, virou as costas e saiu.

* * *

TEMPO ATUAL

* * *


Olhei para a carta, dessa vez com pavor de abri-la
O maior problema foi eu acreditar que ele nunca iria me surpreender, mesmo ele tendo me dado indiretas ao longo do tempo, eu confiava nele, acreditava que era somente eu em sua vida, sem ruivas frias e desdenhosas.
Decidi que não leria aquela carta. Seria melhor deixar tudo como estava.
Rasguei-a e coloquei fogo. A verdade sobre o amor é que a confiança precisa ser mútua, um casal não é um casal com apenas uma pessoa.


Pauta para: Bloínquês (Conto/história).
Tema: Decidi que não leria aquela carta. Seria melhor deixar tudo como estava.

3 comentários:

  1. Oi Alê, faz tempo que não passo por aqui o que me foi uma pena, mas vou ler os textos perdidos...

    Gostei muito do escrito. Bem montado, bem dispostas as cenas e apesar de triste bastante verdadeiro:

    "A verdade sobre o amor é que a confiança precisa ser mútua, um casal não é um casal com apenas uma pessoa."

    Incrível essa frase final, gostei muito de tudo Alê, obrigada pelo prazer da leitura.

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  2. Que triste isso.
    Pois é, se confiança não dá né D:
    Mas eu ainda leria a carta HUAHSIUAHSI (curiosa :B

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Nunca sabemos de tudo.

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