Um segundo a luz estava lá, no outro não.
O quarto era frio, a noite escura, e não havia ninguém com ela, estava sozinha em casa.
A chuva caía ferozmente, como se quisesse devorar o mundo. Os trovões soavam como inimigos ainda não rotulados, e o vento vinha como ondas, fazendo um barulho arrepiante nas árvores ao redor da residência de Carmen.
Já disse que a luz não estava mais lá, então a escuridão era total. Carmen de um modo inútil foi atrás de velas, mas sabia que naquela casa não havia nenhuma, com braços trêmulos abraçou a si mesma, tentando se proteger.
Um vento forte invadiu o quarto, ela havia deixado a janela aberta. Que tentação era se esconder embaixo da cama, deixar tudo de lado e fugir para dentro de sua própria existência, mas ela sabia que se fizesse isso no dia seguinte poderia estar morta por algum assaltante, ou a casa estaria destruída pela magnífica e algumas vezes má Natureza.
Para Carmen a Natureza era um só ser, escolhia suas próprias vitimas como um assassino, sabia a diferença entre bem e mau, e não podia ser domada por mãos humanas. A Natureza era alguém consciente, com poder sobre humano e força absoluta; Carmen acreditava nisso, e deve ser por esse motivo que sobreviveu.
Fechou as janelas com força, demonstrando ao mundo quem era e o que era, ou somente a Natureza, pois querendo ou não, de um modo estranho ela estava enxergando e admirando-a.
Carmen gostava de seu som, da Natureza quero dizer. De manhã lá estavam os passarinhos, há noite a lua subia como mágica embalando-a em um sono profundo em que ninguém podia enganá-la.
Mas é melhor não falar dos enganos da vida de Carmen, ela os tinha como pérolas, guardados, raros e profundamente caros para si própria quando achados.
É melhor também parar de falar de Carmen, ela tem um jeito que é impossível descrever, e mesmo com medo de sua amiga Natureza, não se sentia usada ou traída, simplesmente olhava e sorria. Com ou sem braços trêmulos.
Você narra e descreve intensamente! Ótimo texto!!
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