quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Gueixas, becos e quimonos alaranjados.

Ainda posso lembrar da primeira vez que a vi, eu era só mais um turista qualquer, em um beco qualquer, em uma rua no japão. Porém eu em nenhum momento me referiria a ela como uma qualquer, seus olhos levemente puxados e seus cabelos longos e negros faziam homens como eu se ajoelhar ao seu redor e implorar por um beijo. Mas não, eu não iria me humilhar dessa maneira, não na frente dela. A primeira vez que a vi ela fugiu de mim, eu não entendia porque, será que era casada? Será que tinha medo? Não queria se envolver? Eu não sabia, eu simplesmente não sabia.
Estava andando por aquelas ruas em que o cheiro de esgoto é insuportável, onde tudo parece cinza e marrom, e os homens vão de cabeça baixa com olhares infelizes, alguns tem barbichas, outros não. Então a vi, ela reluzia em comparação a outras mulheres daquele lugar, tão linda, tão limpa, com seu quimono alaranjado, eu não entendia o que ela fazia ali. Tentei me aproximar, e esse foi meu erro, ela fugiu, toquei em seu braço para dizer um oi, conversar, ela saiu correndo, como alguém que acabou de ver um monstro, mas eu não era um monstro, não, eu não era. Eu era só mais um americano qualquer conhecendo outros povos, tentando parecer introsado.
A segunda vez que a vi mudou tudo, minha opinião sobre ela, sobre o mundo, e sobre meu estado emocional. Voltei para aqueles becos, queria vê-la novamente, não poderia sair desse país sem olhar de novo naqueles olhos castanhos. Estava tirando algumas fotos, quando de relance minha máquina a pegou no visor. Não, eu não tirei a foto, só baxei a câmera e fiquei a contempla-la, maginifíca, pura e simples, maravilhosa. Ela não me via, então dessa vez não fugiria, eu a segui pelas ruas imundas, olhando as vezes para o chão, uma hora ou outra eu sabia que iria tropeçar, mas antes disso acontecer, ela entrou em um casebre,ele não era nada diferente dos outros naquele quarteirão, sujo, feio, marrom e cinza, uma mistura horrível para olhos humanos.
Então ouvi uma voz gritando com ela, era de uma mulher, mas tenho certeza que não era sua mãe, pois era quase da sua idade, não dava pra ouvir direito, eram relances rápidos e eu ainda era lerdinho no japonês, não sabia o que fazer, mas menos de um minuto depois ela apreceu a porta, e num susto me viu.
- Por que você foge mim? -eu havia ensaiado essa frase antes, não sabia que resposta esperar.
- Tem que ser assim, eu sou feita para isso.
- Feita para o quê?
- Eu sou uma gueixa, por favor se afaste de mim, já tenho problemas demais.
Essa foi a revelação, uma gueixa, eu sabia que gueixas eram mulheres que estudavam a arte da sedução, do canto, da dança, mas não esperava encontrar uma.
- Uma gueixa? - fiz uma cara de não-acredito-que-você-faz-esse-tipo-de-coisa.
- Uma gueixa, e não uma prostituta, nós seduzimos e não transamos, com licença, preciso sair daqui.
E então se foi, e esse foi meu único e inesquecível momento com uma gueixa, linda, sensual e definitivamente insuperável.

Imagem: Google

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