sábado, 26 de dezembro de 2009

O galpão


- Pra onde vocês estão me levando? O que estão fazendo comigo? Dá pra me largar, tira isso de mim! – cordas apertavam meus braços, e minhas pernas tinham acabado de ser soltas.
Eu não sabia quem esses caras eram, e nem o que queriam, eu estava apenas saindo da escola, como uma garota normal, eles simplesmente me puxaram tapando minha boca com uma fita imprestável, por que eu consegui tira-la para gritar, o que foi inútil, pois eles fizeram eu engolir os gritos com uma faca em minha garganta. Me colocaram dentro de uma van, mas agora eu já tinha sido retirada dela, como uma mercadoria, sem sentimentos, e sem dor.
Sai cambaleando de lá, meus pés tocaram o chão como se tivesse uma energia poderosa que não deixasse eu entrar em contato com nada. Estava tonta. Os dois homens de capuz preto me levaram pelos braços, quem eram eles afinal?
- Calma, calma – eu tropecei, e aquilo doeu, pude ouvir o barulho de meu osso estralando - calma eu disse, meu pé está doendo.
Não só meu pé, meus braços estavam latejando, parecia que meu coração havia trocado de lugar e ido para os pulsos, e o pior de tudo: eu não tinha idéia de onde me encontrava. Aquilo era assustador.
- Por favor, por favor, me solta – eu estava manca, com uma dor impossível de rejeitar em meu pé, e ainda por cima implorando, eram nessas condições terríveis que eu ia terminar minha vida? – eu não fiz nada pra vocês!
- Você não fez, mas seu pai fez –  essa voz imponente veio por trás de mim, parecida com aqueles filmes que todo mundo já olhou milhões de vezes. Mas dessa vez era comigo, impossível não sentir medo, tremi, mas me mantive firme.
- Eu não conheço meu pai – e era verdade, minha mãe tentou esconder quem era ele até eu ter doze anos, então ela me contou que ele era um “criminoso de merda”, parece que ele melhorou não é?
- Mas nós conhecemos – ele falou em um tom quase irônico, deu uma risada que arrepiou até meus pelos dos braços.
- Mas e daí? Eu não tenho absolutamente nada a ver com isso, por favor, me solta, meu pé está doendo – lágrimas, sim, as tão adoradas lágrimas.
- Tudo bem tudo bem, solta os braços da garota, mas, por favor, menina, não tente nada contra mim, tudo bem?
Mexi minha cabeça em movimento positivo, com os olhos baixados, com o desprezo quase subindo a cabeça. Eu precisava acabar com isso. E pela primeira vez olhei ao meu redor, eu estava dentro de um galpão, um galpão velho e mal feito, esse era meu fim então? Não, não, isso não podia ser o meu futuro, não o meu. Ergui a cabeça para segurar as lágrimas, respirei fundo, e tentei não chorar novamente.
Olhei para aqueles homens, eles estavam com armas, sim, armas, dentro das calças, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Ouvi um barulho de um carro estacionando, não era só um carro, eram vários carros. Mas parece que o senhor “arma na calça” não percebeu isso. Será que eram mais capangas para me fazer sofrer?
- Ele chegou, peguem a garota, ligeiro, vamos lá! – e mais uma vez aqueles homens grotescos me pegavam pelos braços.
A porta do galpão se abriu, e apareceu somente um único homem, totalmente fardado, quem era ele? Meu pai não era policial, nem agente de nada, ele era um criminoso não era? Era isso que mamãe me disse. E o barulho dos outros carros que eu ouvi? Eu estava tonta desse jeito? Fechei os olhos e respirei. Mas de nada adiantou, continuei nervosa.
- Solte ela agora, estou mandando – não sei quem ele era, mas estava tentando me salvar, e isso já era bom demais.
- Agora você quer sua filhinha não é? Mas na época que era um bandidinho que trabalhava pra mim, não deu a mínina para ela.
- Isso já passou, solte ela, eu só queria o bem dela naquela época, por favor a solte – eu senti a emoção na voz dele, independente de ele ter me deixado sem pai por dezesseis anos, eu dependia dele agora, mais do que nunca.
- Você tem furado com tudo que eu faço, e alguém vai pagar por isso, e se não for você vai ser ela.
- Tudo bem, tudo bem, então vai ser eu, solte ela e me pegue, vamos lá, faça isso, não te peço mais nada, pode fazer o que quiser comigo, mas por favor deixe ela viva.
- Nunca pensei que seria tão fácil acabar com você. Nunca pensei que esse fosse seu ponto fraco. A CIA vai perder mais um chefe RÁRÁRÁ – ele era maluco, sim ele era maluco.
Meu pai, como é estranho pensar assim, o meu pai vai salvar a minha vida, a vida de uma garota que ele nunca viu, ele foi se aproximando, e quando eu vi, não estava mais presa aqueles desconhecidos, e nem meu pai. Um dois tiros, eu disse que eu havia ouvido o barulho de mais de um carro. Policias corpos no chão, vi sangue, e desmaiei.
- Acorde, acorde, tudo bem? – abri os olhos devagar, e vi, não era sonho, não era minha imaginação maluca, era mesmo meu pai.
- Pai, é você mesmo? – minha voz era fraca, meu pé doía, e eu estava deitada no chão sujo, o barro gosmento, e um cheiro horrível de sangue.
- Sim, sou eu – e de repente na da mais importou, nem o barro, a dor, e nem o cheiro de sangue, aquele era meu pai, e estava ali para me salvar.
Eu sorri, ficaria deitada ali o tempo que fosse necessário, só olhando para sua cara preocupada, a cara de um pai que nunca havia visto.

Imagem: Google

2 comentários:

  1. Lindo, lindo mesmo! Já comentei algumas vezes e já disse que você escreve maravilhosamente bem. Parabéns! Queria te fazer um convite, mas não sei se é do seu interesse. Eu estou pensando em criar um 'blog comunitário', no meu blog eu posto coisas muito pessoais e o meu blog de contos acabou perdendo a graça. Então esse seria um blog de contos, dissertações, histórias reais, um pouco de tudo. Mas que fosse um refúgio, sendo sempre atualizado, para as pessoas que quisessem ler bons textos. Não sei se você está interessada, ou se eu estou apta a entrar em um blog com esses tais 'bons textos', mas gostaria que você participasse. De qualquer forma dá uma passada no meu blog, só como resposta. Beijos, Mel! (parabéns de novo pelos textos maravilhosos1)

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  2. Obrigada Mel, e já te respondi beijão linda :*

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Nunca sabemos de tudo.

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