sexta-feira, 30 de abril de 2010

Anjo da Rua Moreira Silva

Naquela época eu já tinha cinquenta anos, e ele apenas sete. Seu olhar era ao todo singelo e verdadeiro. Era um menino tímido que vivia na Rua Moreira Silva, se o guarda estivesse com bom humor ele podia dormir na praça, e que boas ele achava dessas noites, tão quieto, submisso ao olhar humano...
Que azar que era quando o guarda chegava o tirando a tapas dos bancos sujos e imundos da bendita praça. Essas eram as infelizes noites para ele, em cima de um papelão achado no lixo ele dormia como um rato qualquer, acordava inúmeras vezes com bêbados a passar, pessoas a se divertir nos bares que havia por perto. 
Como era triste a vida que levava, e tinha apenas sete anos...
Sempre que eu saia de casa o encontrava, com seu olhar de anjo, olhos azuis como o céu naqueles maravilhosos dias de verão, cabelos amarelos como o trigo bem cuidado. Queria limpar a sujeira que se acumulava em seu corpo miúdo. O carinho por ele era tamanho que às vezes chagava em casa chorando.
Ele recebia comida das pessoas que, como eu, sabiam da vida que levava, eu mesma quantas vezes não fui até ele com a janta ou o almoço, morando sozinha não me preocupava com mais nada, só com o anjo que ficava a vagabundear na Rua Moreira Silva.
Veio-me a ideia de adotá-lo, fiquei com aquilo a martelar em minha cabeça, como um papagaio chato em uma gaiola pequena, mas achava que era impossível, já era velha naquela época, não poderia cuidar de uma criança. 
Mas pensar demais nunca havia sido uma de minhas maiores virtudes, um domingo acordei para ir à missa, e na volta como se fosse uma ação resultante de todas as vezes que vi um padre falar o levei para casa, sem pestanejar nem nada, aflingia-me muito vê-lo ali, tão sozinho e totalmente do mundo.
Ele aceitou de bom grado, no começo tímido, mas eu logo fui lhe dizendo para não se acanhar, dei-lhe um bom banho, muito amor, comida para encher até os cotovelos, arranjei para ele até documentos.
Sinto-me tão honrada de dizer que sou a mãe dele, pois eu sou eu o criei, a biológica até hoje não se sabe o paradeiro, muito menos do pai, mas eu estou aqui, viva depois de tanto tempo.
Hoje já é um rapaz bem feito, diferente dos outros, tenho que admitir, mas pra mim ainda é um anjo, que ao invés de cair do céu teve que ser buscado por minhas próprias mãos, no que diga-se de passagem, parecia o inferno.
Já tenho a cabeça com todos os fios brancos, sou uma idosa feliz que é amada por uma jóia rara. O meu anjo, minha única família, é pra mim o que eu poderia chamar de porto seguro móvel.
Eu amo meu filho,e sei que ele corresponde ao sentimento da mesma maneira, sinto um enorme buraco em meu peito quando penso em quantas crianças ainda vivem do mesmo modo que ele vivia, algumas vezes ainda pior.
Mas morrerei feliz, e como diz o meu anjo, com muito "rock na veia".


Foto retirada do Flickr

quinta-feira, 29 de abril de 2010

A bala de menta

Foi rápido e ameaçador, ele abriu aquele papel de bala como se estivesse brigando com um monstro, mas não do tipo que encontramos atrás do armário, e sim aqueles que nos assustam em dias ruins, aqueles mesmos dias que caímos cinco degraus de escadas ou tropeçamos no meio fio.
Balas de menta o acalmavam, a sua mão ainda tremia, e em seu rosto um sorriso começava a aparecer, mas não era o tipo de sorriso que as pessoas gostam de ver. Era um sorriso sádico, um sorriso sarcástico, depois de jogar o papel de bala no chão, e pisar em cima como se fosse um cigarro que ele acabara de fumar, ele saiu rápido atrás de algo ou alguém. Nem ele sabia.
Queria acabar logo com tudo, com ele mesmo, com o som da chuva que começava a cair, com o latido distante de um cachorro de rua. Queria acabar logo com tudo, tudo que para ele um dia pareceu normal, queria tirar suas roupas ensopadas ali mesmo, e caminhar nu naquela rua vazia e atormentadora. Ele não queria mais ser ele, queria somente acabar com tudo que é considerado vida.
Saiu tão rápido que ficou indetectável a olhos humanos. Enquanto isso um papel de bala de menta voava, em meio a pingos de chuva e a escuridão da noite. Tão irracional, mas ao mesmo tempo tão real.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Ela é Manuela, você seria o contrário dela?

Manuela correu para seu quarto, fechou a porta e deitou na cama esquecendo todos os compromissos de seu dia.Enrolou-se no cobertor e ali ficou. Lembrou de quando era criança, ela sempre pensava que se estivesse inteiramente tapada bichos papões não a pegariam quem dera que fosse assim hoje em dia.
Se livrar de todos os problemas só por estar tapada seria maravilhoso, Manuela revirou e virou esse pensamento, só para ter algo com o que ocupar a cabeça, mas isso não era o suficiente, a sua mente sempre se voltava para as coisas ruins que a cercavam.
Seu quarto escuro parecia à imensidão, como se fosse um grande poço que aos poucos ela ia afundando mais e mais, quase em câmera lenta.
Não notava as coisas que a cercavam, ou os olhares que a seguiam. Olhava para si mesma, e com seus olhos dissimulados, como Capitu, seguia em frente.
Hipócrita, talvez.
Sua maior essência era saber sempre o que falava. Não importando quando ou como, era quase um dom, saber como interagir com pessoas indecifráveis, com pessoas ousadas, e talvez como ela mesma, hipócritas e dissimuladas.
Manuela ficou sozinha com seus sentimentos escondidos, sentimentos de alguém que mente, não só para o mundo, para si mesma.
No seu olhar liam-se desculpas, no olhar dos que a cercavam ressentimentos.
Mas ela não aguentava a solidão por muito tempo, se desenrolou das cobertas, saiu da cama e  passou pela porta com passos firmes.
Querendo mostrar-se segura, ou talvez só reforçando sua dissimulação. 
Manuela com sua mente caótica conseguia paralisar a si mesma e pensar um pouco, mas nunca mudava, mesmo estando de cara consigo mesma, com suas mentiras e obliquidades.
Ela é apenas mais uma... Pois além dela existem outras milhões que escondem por baixo da pele seus verdadeiros "eu’s".

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Amor bem amado

Quisera eu ter um amor correspondido, um amor bem amado, vocês sabem do que eu falo.
Quisera eu não ter só minhas palavras, tão cruas em alguns momentos.
Elas se despem a noite no escuro e no frio, e ali ficam, sozinhas e nuas, seres cruéis, vocês não sentem pena delas?
Quando o sol vem - se vem - as palavras que nunca valem nada se esquentam um pouco, mas por pouco tempo, o sol se esvai - isso se ele vem - e ninguém as percebe. Elas tem uma tão doce voz, mas ninguém as ouve, ninguém sente seu aroma que inúmeras vezes chega a ser enjoativo.
Quisera eu poder dar ênfase nelas, coitadas, só precisam do seu amor, seu ser cruel e frio, não vê que tu também és um mero mortal?
Note-as, se conseguir sublinhe-as, pois elas saem de mim, eu sou sua criadora, e elas precisam do seu carinho.
Mas eu sei que o dia da morte delas chegará, num bálsamo de solidão irão morrer, num alívio quase insatantâneo.
Então quem sabe, ao acharem os corpos jogados em meio aos próprios trapos, vocês consigam precebe-las.
Pois quisera eu ter um amor correspondido, um amor bem amado, vocês sabem do que eu falo.

domingo, 25 de abril de 2010

Casa abandonada

As gotas caiam melancólicas e tristes. Quietas, como se tivessem medo de chamar a atenção. 
A torneira não havia sido fechada, e não havia ninguém ali para fazê-lo. 
A claridade aos poucos vinha em direção de toda  ferrugem no local. Estava tudo abandonado, como se um fantasma pairasse a grande casa.
Os dias passavam lentos para a torneira medrosa, as gotas iam em direção ao chão, e de uma em uma se juntavam formando uma grande correnteza para formigas.
A porta da cozinha sem móveis aos poucos apodrecia, quem sabe o problema era os cupins ou a água indo em direção a grama que se encontrava do outro lado. Um lado do jardim descuidado era feliz, sempre tão verde, aquelas gotas banhavam as flores que ali se encontravam, a grama era viva, e crescia cada dia mais, como uma grande floresta para os insetos.
A casa abandonada começava a feder, bichos morriam ali, os ratos, por exemplo, será que morriam de velhice? Talvez, se é que ratos morrem disso.
Cobras d'água se infiltravam pelos buracos que apareciam cada vez mais em todos as velhas paredes da casa. Já tinham vivenciado tanta coisa, e agora nada mais eram do que um lixo vazio e sem sentido, mas que parava em pé.
Um dia a parte viva do jardim se assustou, o gramado se arrepiou, os insetos tentaram fugir, e os ossos imundos dos ratos, sem vida, continuaram jogados em lugares estratégicos.
Foi um grande baque, um barulho sem emoção, nada tinha a ver com a torneira pingando, era um barulho frio, mas que mesmo assim metia medo, um estouro nas paredes mortas, que logo as fizeram cair, como se tivessem culpa de alguma coisa.
Depois que tudo já estava no chão, o gramado aos poucos morreu, a parede que um dia foi um lixo em pé, não era mais que algo para se olhar e sentir tristeza.
Não existia mais a melancolia de gotas caindo, nem cadáveres de ratos, algumas cobras ainda haviam sobrevivido, mas ali não era mais seu lar. 
Os restos de tudo que havia ali aos poucos foram sendo tirados, não era mais uma casa, não tinha mais vida.
Com os dias iriam esquecer que ali havia uma casa (abandonada). Restaria só a tristeza de todos aqueles tijolos que um dia haviam sido recém-nascidos em uma olaria.

sábado, 24 de abril de 2010

Lurdes com a cara e a coragem

Olhar para fora da janela não era o bastante para Lurdes, ela queria mais, queria poder abraçar o mundo de uma só vez, conhecer, estudar, fazer as escolhas certas. Ela se achava preparada para isso. Mas seus pais não...
A chuva caia fazendo com que ela ficasse com sono, o som vindo da cozinha dizia que seus pais estavam chegando em casa, ela estava cansada, com o olhar caído e sem nenhuma determinação. Fechou os olhos, suspirou e abriu-os de novo. Estava sentada na sala de estar, sem nenhum compromisso pelo resto da semana, sem nada para fazer a não ser olha o teto ou a chuva que fazia lembrar a infância.
- Oi Lurdes, como foi seu dia? – perguntou a mãe entrando na sala, largando a bolsa na mesa e sentando relaxadamente no sofá.
- Bem... – ela hesitou, não por preocupação, mais porque até para conversar estava com a voz cansada – chato.
A mãe olhou para ela, mas não falou nada, Lurdes e ela sabiam que não mudaria nada independente do que elas conversassem. A mãe já havia botado as próprias regras, e Lurdes tinha medo de quebrá-las.
O pai de Lurdes deu um oi ligeiro para ela e subiu as escadas correndo, resmungando alguma coisa sobre “quem trabalha passa calor”. Ela já tinha 18 anos e nunca havia trabalhado, os pais não deixaram, e ela tinha medo de tentar algo que fosse contra a vontade deles.
Lurdes não queria fazer vestibular, por que se passasse a escolha do curso seria dos seus pais e não dela, só porque os dois eram advogados eles sentiam que ela também deveria ser, mas Lurdes não queria isso para si. Digamos que arte cênica não era uma das escolhas com mais pontos entre o papai e a mamãe.
Ela ficou mais um tempo olhando para o nada, tinha que tomar algumas decisões. Decisões sem a ajuda dos pais, já havia cansado daquilo. De ter que agüentar eles mandando nela como se ela fosse uma bonequinha deles.
Ela e a mãe conversaram por algum tempo, e enquanto faziam isso o tempo passava, escureceu, a chuva parou. Ela sabia o que ia fazer.
Enquanto conversava com a sua mãe ela percebeu que não poderia mais viver com eles, tinha que sair daquela casa, com ou sem permissão.
Quando subiu para o seu quarto ela não deitou na cama e muito menos dormiu, ao invés disso pegou uma mala no guarda-roupa e foi arrumando o que seria de maior necessidade dali em diante. Roupas, calçados e algumas economias que havia juntado ao longo do tempo, só isso que teria para sobreviver.
Desceu as escadas passo por passo, sem fazer nem ao menos um ruído, abriu a porta e lentamente deixou a casa que tanto amava, sem avisos e muito menos sorrisos.
Saiu para dentro da noite escura e gelada, pisando com passos fortes no asfalto molhado, aquele mesmo asfalto em que um dia ela caiu de bicicleta, ou que ela correu para visitar os vizinhos.
Ela não sabia o que seria dela dali em diante, quem sabe passaria no vestibular, quem sabe não. Quem sabe conseguiria um emprego, e se não conseguisse não teria como sobreviver. Deixou algumas lágrimas caírem, que foram direto de encontro ao chão. Ela já havia chorado ali, naquela mesma rua, mas por motivos diferentes, um joelho sangrando, uma briga com algum amigo. Mas agora era diferente, ela sabia que teria que lutar, e não tinha nada a seu favor, somente ela mesma.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

A menina que não sabia ler - John Harding

Hoje vou falar sobre livros.
Comprei o livro "A menina que não sabia ler" de John Harding já faz algum tempo, gostei tanto da capa que me apaixonei,  e o nome me lembrou "A menina que roubava livros" - Markus Zusak (que é outro livro ótimo) então comprei, na pura burguesia do meu ser apaixonado por livros, e sempre louca para ter mais um na estante.
A história se passa em outra época (1891, pra ser mais exata), tem um estilo meio Henry James e Edgar Allan Poe, é um tanto gótica, tem suspense, mas mesmo assim é um ótimo romance.
A história é sobre uma menina (juuuuura?!) de onze anos, que não sabia ler (juuuuur...).
O nome da garota é Florence, ela mora em uma mansão enorme e tem um irmão mais novo chamado Giles. O tio sustenta os dois, pois a mãe de Florence, a mãe de Giles (são duas mulheres diferentes), e o pai das mesmas, morreram.
Florence mora em uma mansão, e lá ela descobre uma biblioteca enorme, ela se interessa muito e começa a querer aprender a ler, mas o tio, que mora em outra cidade, a proíbe, pois acha que as mulheres não devem ser instruídas pois se tornam muito "ariscas", pois quando jovem ele ia se casar, se apaixonou por uma mulher e ela para ter o mesmo nível que ele começou a estudar, resultado: não quis mais casar com ele.
Florence começa a aprender a ler sozinha, pergunta todos os dias quando o empregado está lendo o jornal qual é o som de tal letra, ou como se lê tal palavra. Em dado momento ela já sabe ler, e os livros viram seus únicos companheiros e confidentes.
Ela lê e visita a biblioteca escondida, se mostra ignorante com a governanta e o resto das pessoas que conhece, quando na verdade é muito inteligente, a única pessoa que sabe seu segredo é Giles, seu irmão.
O tio resolve que Giles tem que estudar e o manda para um colégio que naquela época, como quase todos, ele era interno, o garoto é meio demorado nos estudos, não consegue acompanhar os colegas e apanha muito, então o mandam de volta pra casa.
Florence fica muito feliz, pois, ela se sentia muito sozinha sem seu irmão. O tio manda uma perceptora, ou seja, uma professora, para dar aula ao Giles, essa perceptora morre no lago da mansão, o mesmo que a mãe de Giles e o pai das crianças morreram.
Outra perceptora e...
Ok, vocês estão pensando, nossa! Que história mais monótona, esse tal de John Harding não sabe escrever coisissíma nenhuma, estão errados, quando as coisas começam a engrenar tudo vira um enorme suspense, você não sabe se Florence é ingênua ou vilã, na verdade você não consegue mais largar o livro,
Eu não vou terminar essa resenha, eu queria muito que todos vocês lessem, pode ser que vocês não gostem do final, pois deixa meio em aberto, no estilo resolva os mistérios com sua própria imaginação.
Mas eu me abalei com a criatividade do autor, muito original, uma história de outra época com toda a malícia do que eu poderia chamar de “dias de hoje”.
Só posso dizer que a Florence engana todo mundo, todo mundo mesmo, é uma pequena gênia!
LEIAM, LEIAM E LEIAM!
E por favor, se o fizerem venham me dizer o que acharam.

Beijos, e queria dizer que as coisas que eu escrevo também podem ser criticadas, mas não é preciso me chamar de imbecil e debilóide para isso, e muito menos dizer que eu só escrevo merda. Meu blog é público, e sei que as outras pessoas podem formar opiniões algumas vezes que eu não irei gostar. Mas, se você não quiser ler, ou não gostar de mim, por favor, dê uma opinião construtiva, e não comente coisas insignificantes, e que não irão me abalar, tente ajudar, pois pode acabar ficando ridículo para você.
Peço desculpa para as pessoas que gostam do que eu escrevo por ter que falar isso, mas eu me senti ultrajada com um comentário ridículo que postaram aqui, dizendo que eu sou ridícula.

Alessandra.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Nada se encaixa

Eu não sei o que estou fazendo. Não sei nem o que eu estou sentindo.
Eu tento relacionar as coisas, tento envolve-las, tento junta-las, mas nada, absolutamente nada se encaixa.
Nem um movimento, nem uma palavra, muito menos um olhar.
Nem uma mão erguida, nem um aceno desprevenido.
"Você deveria ir lá, por favor, vá".
Não, não quero ter que fazer isso, e nem sentir isso.
Eu só queria que as coisas se encaixassem... 
Queria às vezes que o mundo parasse um pouco, só pra eu pensar.
Queria que o mundo parasse para eu poder olhar a situação e então agir.
Mas o mundo não faz isso por nós, ele é sempre mais rápido, e alguns acabam ficando para trás.
Eu, por exemplo.
E olha que eu só queria que as coisas se encaixassem...  
O que não é algo tão simples assim, mas vamos fingir que é fácil!



segunda-feira, 19 de abril de 2010

Esqueça o suco de maracujá


Se mantenha em pé, aguente firme! Não se abale, não se deixe levar, discuta se puder, leve para o lado mau coisas que podem ser boas. Sinta a dor, se sacrifique.
Pegue um papel, escreva FUCK YOU, e grude na cabeça da professora de biologia, e não esqueça de que tem que ser com cola quente, é fundamental.
Roube uma uva na infância, e viva o remorso de que poderia ter sido o cacho inteiro.
Saia de casa aos vinte e seis, e pule dentro de uma poça como se tivesse cinco. Se envergonhe.
Pinte suas unhas com corretivo, e deixe os outros rirem de você por ser tão idiota.
Ouça músicas lentas, se acalme. Esqueça o suco de maracujá, é tão ruim que chega a doer.
Sinta nojo. Bote a cabeça pra fora do carro e deixe todos os fios de seus cabelos darem tantos nós que nem o melhor escoteiro poderia desfazê-los.
Corte o cabelo, e depois fique com vontade de bater a cabeça na parede de tanta raiva. Então vá lá e corte o cabelo de novo, só para sentir mais raiva que da vez anterior, afinal, você foi idiota duas vezes.
Tenha paciência quando sua mãe estiver dirigindo, acredite, ela merece isso, além de é claro ser um bom exercício para sua mente.
Tente agarrar alguém.
Não fuja quando esse alguém te desprezar.
Quando a paciência acabar grite, grite e grite de novo.
Vá para a direção por gritar tantas vezes.
Ria quando alguém puxar sua cadeira e você estiver sentando, mesmo que sua bunda tenha ficado quadrada. Puxe a cadeira de alguém.
Desconfie quando o santo for bom demais e arraste alguém pelos cabelos, vale mais ainda se esse alguém for sua irmã.
Seja um pouco mais criança do que o normal, relaxe...
Se importe quando ouvir seu nome, e lamente quando não ouvir. 
Lembre-se que essa última depende muito das situações.
Torça o pé quando estiver se balançando, e não esqueça que tem que ser seu avô que vai estar empurrando.
Estude e finja que não está ouvindo quando sua irmã falar com você. De um soco na mesma, por favor, vá socorrê-la.
Pise em quatro cocôs de cachorros no mesmo dia, de preferência na praia.
Admita enquanto estiver tomando côco que aquilo parece soro, diga: "é ruim pra caralho!".
Leia alguns livros clássicos, os sete Harry Potter's e alguns de Meg Cabot.
Saiba que alguém sempre vai te questionar e que alguém sempre vai criticar. E lembre-se: isso só vai fazer você melhorar.
E por último e mais importante: esqueça pelo menos metade do que eu escrevi aqui.


Imagem: Zim Killgore
E agora vocês pensam, essa Alessandra é revoltada ou o quê? Bom, eu sou um pouco revoltada sim, mas você não iriam se assustar. Todo mundo tem uma parte não tão humana, mesmo que fique escondido meio que a sete chaves.
Milhões de beijos,


Alessandra.

domingo, 18 de abril de 2010

Folhas verdes caindo no mar

Ontem eu descobri que eu tenho coragem. Posso segurar sua mão sem sentir medo, posso te tocar sem me envergonhar. Ontem eu descobri que eu posso correr e ir te encontrar, posso dizer fique em silêncio, e que não conte pra ninguém. Eu descobri que posso fazer escolhas difíceis, e sentir um medo enorme de ser descoberta.
Ontem eu descobri que sou um bom detetive, e que recordar faz eu me arrepiar.
Descobri que posso guardar um segredo que está quase jogado na cara de todos, mas que ninguém vê.
Ontem eu descobri que por mais que eu tente, por mais que eu queira guardar isso em mim e não contar a ninguém: eu ainda gosto de você.
Do seu jeito estranho, e até mesmo diferente, do modo como você me olha, do som da sua voz.
Eu gosto de você, gosto dos seus defeitos, e também das qualidades.
Eu gosto de saber que eu posso pegar sua mão, e ver que te encontrei desprevenido.
Eu descobri que posso te beijar, e sei que você vai corresponder. Depois disso meu olhar vai encontrar o seu, e eu vou pedir silêncio. E eu sei que você vai guardar esse segredo. O nosso segredo, e de mais ninguém.
Vou soltar a sua mão, e voltar correndo pro lugar que eu estava antes de te encontrar. Ninguém vai saber, a gente vai rir, e se divertir.
Eu gosto de você, eu gosto do jeito que meus olhos encontram os seus. Como folhas verdes caindo em um mar azul. Ou como um gramado refletindo a luz do céu. Somos assim, eu e você.
E eu sei que minhas descobertas não foram em vão, e eu sei que você vai sorrir depois que eu te contar, vai rir e dizer: "demorou, mas eu sabia que eu poderia te esperar".

Imagem: Flickr VanessaClass
17/11

sábado, 17 de abril de 2010

Fria e frívola

Ela tinha um jeito tão frívolo de levantar a cabeça e botar o braço pra fora quando estava dirigindo que era quase como se aquele fosse o jeito certo de viver, como se só suas maneiras estivessem corretas. Como se a educação fosse algo sem sentido e as boas maneiras algo que nada tinha a ver com viver.
Seus braços finos e curtos gritavam vulnerabilidade, mas seu rosto e suas palavras eram tão confiantes que todos se deixavam levar por aquilo que ela tinha de melhor. O que era quase nada.
As demonstrações de afeto que dela saiam nada mais eram que puro sarcasmo de um olhar, por que além de frívola ela era fria.
Era tão intolerável aos olhos humanos que ardia vê-la, ardia ter que toca-la, ardia sentir sua presença.
Ela se considerava maior que todos. Pensava que sua boca era mais doce que a de muitas, seus olhos mais verdes que um gramado em seu melhor estado, e sua pele mais branca que a neve que caía lentamente até chegar devagar ao chão.
Ela era frívola, tão frívola que chegava a ser boa em coisas sem sentido. Como falar coisas que agradassem, e ajeitar uma gravata sem corte, ela era tão frívola que chegava a ser doce, ela era tão amada que chegava a ser quente, em dias claros ela chamava atenção, em dias de breu ela era sempre a melhor solução.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

A loira , a loirinha e uma mulher preocupada

- Acho que dessa vez vai dar certo - uma mulher de cabelo loiro acinzentado, e um corpo de mãe falou bravamente.
A moça com a câmera fotográfica na mão olhou pra ela e sorriu, mesmo pensando que odiava o próprio trabalho e como as coisas aconteciam sempre da mesma forma.
A mulher de cabelo loiro acinzentado, não tinha só corpo de mãe, ela era mãe. Ao seu lado, uma mini-pessoinha vinha de mãos dadas com ela. Ela era uma criancinha loira, com lábios rosados,  e uma maneira fofa de olhar que deixava as pessoas ao seu redor derretidas.
As três entraram em uma sala com iluminação e decoração, a mãe pegou a filha como se fosse um troféu e a colocou em cima de uma cadeira, com os olhos brilhando de orgulho.
É sempre assim, pensou a fotografa, sempre, será que elas nunca cansam?
A menina loira pulou da cadeira e saiu andando, sentou ao lado da mãe  ficou olhando o que a mulher com a câmera na mão estava fazendo. Uma cena engraçada, diga-se de passagem. 
Tentaram uma segunda vez, mas a menina desta vez queria caçar borboletas, estava dando voltas e brincando com a paciência das duas.
E lá foi a terceira e a quarta tentativa, sem sucesso nenhum. A mãe já estava pedindo desculpas e suplicava para a filha para que parasse quieta. A fotografa sorria e tentava ajudar, como toda a boa "empreendedora" faria. 
Já havia passado quase uma hora quando mãe e filha foram embora, a mais velha meio abalada e com os cabelos destruídos, o rosto quente de vergonha, ou talvez fosse o calor, ela ainda pedia desculpas ao passar pela porta de saída, a fotografa sempre sorridente e prestativa ainda sorria, e fingia que ouvia, mesmo os berros da doce menina estarem tão altos que o quarteirão inteiro poderia ouvir.
A fotografa sorriu, pensando que pelo menos aquela criança não havia destruído nada, a decoração, por exemplo, então ela teria que arrumar, teria com o que se preocupar. E ela odiava preocupações.


Vida cotidiana é o que há! E tudo bem, o nome do texto foi uódoborogodó, mas eu achei fofinho, principalmente o começo.

Alessandra

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Encontros da vida alheia

Ela tinha um sorriso cansado, um sorriso cansado e bondoso, não era uma senhora qualquer, não passava a mão na cabeça dos netos com um ar de orgulho, pois ela não tinha netos. Ela não tinha filhos, desperdiçara todas as chances que tivera, da primeira a última. Seu nome? Quem sabe vocês conheçam, ela foi famosa, parecida com uma bailarina, não desculpem, ela era bailarina. E por isso era famosa, seu nome era Rita.
Viajou e conheceu, mas voltou ao lugar de onde partiu, ninguém sabe se ela se arrepende por não ter tido filhos, ninguém sabe...
Vive sozinha, em uma casa imaculadamente branca, toma seu chá todos os dias, de uma forma tão cotidiana que já faz parte do seu próprio ser. Um ser sem família, sem amor. Teve as chances, poderia ter parado de dançar, vivido mais, amado mais e quem sabe se casado com Otávio, sabem, o Otávio, aquele que segurou a mão dela para ela não tropeçar no meio fio, que cheirou suas madeixas ruivas e disse que ela era a mulher mais perfeita do universo. 
Aquele que a pediu em casamento.

Ele era quieto, um senhor quieto e com uma cara carrancuda, mas quem um dia o conheceu de verdade sabe que por trás de seu rosto imponente existia um mel tão doce quanto o que as abelhas fazem, ele se chamava Otávio. Tinha um filho chamado Ramón, um filho do mundo, viajava e queria ver e cheirar tudo antes de morrer. 
Otávio se casou um dia, mas as lembranças sobre a tal mulher eram poucas, tão poucas que ele às vezes esquecia que um dia ela existiu. Quando era jovem gostava de segurar mulheres antes que elas caíssem ao tropeçar no meio fio, em certa época se apaixonou sem ser correspondido, ela era ruiva, gostava de cheirar seu cabelo como se fosse sua alma. Seu nome era Rita e ela era a mulher mais perfeita do universo, uma bailarina.
Pediu-a em casamento, mas ela não aceitou, era muito profissional, queria viver para a carreira, queria ser um sucesso, era disciplinada demais, certa demais. Otávio vivia sozinho, em um apartamento acinzentado, que ficava em cima de um bar, do tipo que bailarinas não gostam de entrar.
Otávio sentia remorso, do tipo que corrói, poderia ter tentado mais, ido atrás de Rita.
Ela deveria ser sua esposa.

A brisa era leve, breve e leve. Um senhor passava com uma cara carrancuda, uma máscara. Uma senhora vinha em sua direção, tinha um sorriso cansado e bondoso. 
O senhor sorriu para ela, como se já a conhecesse, com se um dia ela tivesse sido ruiva, a senhora derramou uma lágrima, como se um dia já tivesse se apaixonado.
Com um único olhar, um único e mísero olhar eles decifraram toda uma vida de suspeitas, continuaram seus próprios caminhos, remoendo as próprias mágoas e sentindo a própria dor.


Imagem:  Tumblr

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Agradar ou não agradar, eis a questão...

Nós sempre tentamos agradar a tudo e todos, na verdade quem diz que não tenta agradar no fundo sabe que está tentando ao dizer isso, bem no estilo "sou diferente, e é assim que eu agrado".
Mas sabem agradar nem sempre dá certo, li uma crônica esses dias chamada Sebo, do Luís Fernando Veríssimo (livro As mentiras que os homens contam), e nela um homem tentando agradar um escritor diz que leu o livro dele, e achou ótimo tanto que leu de novo, mas na verdade ele estava mentindo, mentindo para não fazer alguém sofrer, para agradar.
Então o tal escritor o matou por que ele leu o livro,  havia um erro gravíssimo de português no maldito. E ele estava matando todos que o compraram (dezessete pessoas neste caso, eram quinhentos livros, mas ele e a mãe compraram o resto).
O que nos leva a atual situação: "POR QUE TODOS TENTAM AGRADAR?”.
Por que agradando seremos mais populares entre as pessoas, chamaremos mais a atenção, ou todos gostarão mais de nós?
Sabe, ninguém vive uma vida sem fazer algumas pessoas bravas, ou sentirem ódio, ninguém vive uma vida agradando todo mundo, e isso é fato, se todos agradassem a todos, ninguém seria feliz, quanta gente que trai outras pessoas, e quantas pessoas que furam os olhos de tanta gente.
Se não tivesse isso, que graça o mundo teria, aliás, que graça teria as novelas?
O mundo é uma enorme intriga, uma intriga em forma de bola, que às vezes é atirada em nossas mãos. É algo tão grande que algumas vezes dá até certo medo. 
O que nos leva ao medo de não agradar, "nossa, o que será que ela vai dizer se eu fizer isso?". Fale a verdade, esse é outro fato gigantesco, maior que o anterior, ficar remoendo na cabeça o que está se passando na cabeça de outras pessoas, o que em certos pontos da nossa vida é muito importante, mas se preocupar só com isso não dá não é?
Às vezes sinceramente tem que mandar tudo pra um grande poço fechado, engaiolado e esquecer de tudo. Falar, vai se danar também é bom, dá uma sensação de poder, e todos nós precisamos de um pouco disso, pelo menos eu preciso.
Agradar não é tudo gente, eu aprendi isso, nossa opinião vale mais, muito mais, e é bom ter um ego cheio por nós mesmos às vezes não? Tentem. Garanto que dá certo.
Para finalizar sorriam e digam: "EU SOU BOM".
 Finalizei magnificamente bem, não? HAHAHA, beijos, Alessandra!

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Ódio que domina

Chamei você em vão, gritei aos quatro ventos o que eu mais queria, mas ninguém me respondeu, nem mesmo aqueles com que eu sempre contei.
Ajoelhei-me no chão, me joguei nos braços de coisas indesejadas, coisas que me dão pavor e que eu não gosto de nomear. Senti medo, fervi de raiva, e algumas vezes o ódio me dominou.
Sozinha das cinzas eu me reergui, assim como uma fênix, assim como alguém que tem poder, me reergui, mas não era mais a mesma pessoa, não era aquela que via o mundo de um jeito calmo e sem detalhes. Eu conseguia ver os erros, erros idiotas como alguém se abaixando ao pegar uma colher, ou se erguendo depois de um tombo, um tropeço.
Eu não era mais a mesma, fui moldada de um jeito torto, fui moldada de um jeito errado. Conseguia ver as máscaras, conseguia sentir o temor da humanidade. Eu não era mais a mesma, não via mais o rosa como uma cor extraordinariamente forte, eu queria o vermelho em mim, queria que o mundo não visse quem eu era de verdade.
Eu havia gritado, pedido aos quatro ventos, e ninguém me ajudou, fiquei sem auxílio, fiquei sem ter com quem contar, era eu e eu em profundo poço que eu não gosto de lembrar...
Bom, sem explicação para este texto, sério, simplesmente não sei de onde surgiram as palavras. Elas foram saindo como um mini vulcão em erupção e estão ainda, todas juntas e reunidas como irmãos bem comportados.
Beijos, Alessandra.
E obrigada por estarem sempre aí!

domingo, 11 de abril de 2010

Caos ou paz

Agora o mundo poderia desabar e eu não faria nada para contê-lo, nada!
Então como se fosse uma premonição descubro que ele já está desabando, e eu ainda estou aqui, no meio de todos esses edifícios empoeirados, e dessas mentes cheias demais para eu poder me adaptar. Esse não é o meu mundo, essa não é a minha paz.
Tudo que eu mais queria era receber amor, um amor verdadeiro que venha da alma. De preferência nada muito romântico, só o bastante para me fazer sorrir. E não aquele sorriso forçado, que não demonstra felicidade, mas um sorriso verdadeiro como o amor que eu queria receber. Queria.
Agora por onde eu ando vejo árvores caidas, sonhos despedaçados e pessoas sem futuro algum. Nem um dos rostos que eu vejo querem o mesmo que eu, não sei nem se eu mesma quero isso.
Sinto saudades de alguns tempos atrás, o céu sempre parecia tão limpo, tão azul...
Agora eu vejo fumaça, ela está em todos os lugares. Não sei se são meus olhos embaçados, ou é a realidade, eu preferia que fossem meus olhos. Mas eu não posso preferir nada, o meu mundo é assim, ele manda em mim, eu vou onde ele quiser que eu vá. Sem sorrisos e sem esperança.
Eu queria poder mudar a mim mesma, mas é difícil, porque o mundo ainda está desabando. Vejo restos de lixo, e sangue misturado com poeira. Talvez seja a minha imaginação, talvez seja o meu maior medo.
Tão imprevisível ela é.
Quem?
A morte.
Mas eu ainda não senti ela, não senti a sua dor. Eu ainda estou aqui, lutando por um pouco de ar, lutando pelo meu momento de paz. Queria poder ver uma flor desabrochando, pois a única coisa verde que eu vejo é a farda dos soldados que vem de todos os lugares do mundo. É inapropriado reclamar, muitas pessoas sofreram mais... Muito mais...
Às vezes eu consigo pegar comida, às vezes...
Não tenho força o bastante para isso, sou uma mulher fraca, mas ainda tenho esperança, e é só isso que me mantêm viva...
A esperança.

 
Eu fiz este texto quando o terremoto do Haiti tinha acabado de acontecer, eu estava bem abalada na época, mas acho que o texto ficou legal.
Visitem meu outro blog, o The Lilly Paradise, lá eu soumais colorida, e um pouquinho mais fútil!
Beijos, Ale.

sábado, 10 de abril de 2010

A jangada

De: marin_sean@zmail.com
Para: sara.boonie@zmail.com
Assunto: Sua vida

Sara eu estou entrando em crise, eu não sei qual é a sua situação, não sei como você está e nem tenho certeza se você está viva.
Eu sei que as coisas não estão nada boas para você aí, não quero nem imaginar o quanto, me disseram que a única coisa que vocês conseguiram salvar antes que estragasse foi o Note book, alguns bancos velhos e um gerador com o tanque cheio. As pessoas aqui na "civilização" não param de bater na mesma tecla "Eles tem um computador, ele funciona, tem internet via satélite e ninguém consegue acha-los!", e essas pessoas incluem a mim, por isso estou tentando manter contato com você, nunca custa tentar não é?
Pode ser que você nunca leia essa mensagem Sara, e eu sei que você deve estar passando por dificuldades inimagináveis, os familiares de todos estão histéricos e só acharam os restos do seu avião, mas como amiga eu devo tentar ajudar, não aguento mais ficar de braços cruzados enquanto todos choram e pedem indenização, o que é certo, mas é como eu digo, vocês conseguiram mandar uma mensagem, então podem receber também!
Sara, eu vou te mandar o anexo de um livro, que eu garanto que vai ser importante, esse é o livro que vai salvar a vida de vocês, por favor, Sarinha, leia com atenção e faça tudo que diz ai, eu confio em você e nas suas mãos fortes amiga.
Te amo muito amiga, muito mesmo,com a união de vocês onde quer que vocês estejam eu tenho certeza que vão construir essa jangada!

Da maior e melhor amiga; Marin.

Anexo: A jangada de Maria do Carmo Andrade.



sexta-feira, 9 de abril de 2010

Aromas e cores, paixão e emoção

Senti o leve toque de sua mão na minha, quase pude sentir sua doçura, quase pude sentir seu amor.
Mas, ao contrário do que todos pensavam, não correspondi, não passei o que eu sentia para você, não me expus.
Ali não havia paixão, o seu amor por mim virou pó, ou quem sabe tenha se diluído na água. Na verdade não sei para onde ele foi... Não sei onde eu o deixei...
Perdi-me de você, perdi-me de suas palavras doces e de seu sorriso angelical. Não sei se posso dizer a verdade sobre o nosso amor, não sei se posso dizer que você nunca tocou meu coração, não sei...
Talvez me esgueirasse demais, me escondi em lugares difíceis, onde você nunca poderia me achar, eu sei que não fui fácil, mas você também não foi.
Eu quis arriscar, eu quis mudar, quis uma corrida onde eu pudesse sentir adrenalina saindo por todos os poros de meu corpo, eu queria brincar, eu queria não ter que te machucar.
Mas no começo, eu sei, você lembra, eu só queria você.
Minhas palavras humilham a mim mesma agora, eu não poderia apertar sua mão e passar minha energia pra você, eu não poderia mentir.
Você poderia ser menos doce... Quem sabe assim seria mais fácil te deixar em uma estrada qualquer sem sentir remorsos.
Você é demais para mim, é uma fusão de tudo que eu não quero em minha vida, mas que um dia já quis. É uma mistura de tantos aromas e cores que às vezes me sinto mal quando te encontro, me sinto suja, imunda e sem sentimentos.
Eu não sou má, posso até me sentir assim no momento, mas não sou. Você que é bom demais para mim, bom demais para mim e para todas as outras. 
Você é muito aroma para o meu olfato, muita cor para a minha visão. Gosto de coisas neutras, às vezes quase sem sentimentos, e você exala tudo que eu mais desprezo, me perdoe, mas eu sei que sua mão ao me tocar não transforma tudo em manteiga, e eu sei que quando te beijo você pensa em me largar.
E este foi um texto totalmente fictício, beijos e bom final de semana.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Páginas da vida - quase literalmente!


Eu queria tanto virar essa página da minha vida, parece que é uma coisa que eu necessito sabe? Quase como se fosse ar para eu respirar... Quase...
Mas deu câimbra na mão e paralisou, não consigo mais virar as páginas. Talvez por medo de ver o que tem no outro lado, ou pela angústia de sentir saudade do que irei deixar. E dependendo do que deixamos de lado em nossas vidas podemos nos arrepender e sentir vergonha pelo que fizemos o que é normal, mas nada legal.
Mas a nova "página" pode ser tão interessante e melhorar tanto a nós mesmos que será que seria errado nos darmos uma lida e ver como é vivê-la?
Oh, como seria bom dar só uma lida no que há de vir, ver então seria maravilhoso, mas a vida perderia a graça, não teria sentido.
Algumas vezes fazemos escolhas erradas, como passar de vez tudo isso, ou seja, essas página, e continuar, o que pode ser errôneo, pois podemos ter ainda questões a resolver, ou continuar ali na mesma sem obter resultados, esperando algo acontecer.
A parte da minha mente que é razão diz para eu parar e respirar, parar e respirar, parar e respirar. Não me mexer jamais, ficar ali e ver o que acontece, para não cair em nenhum buraco.
Mas a emoção... A emoção me faz pensar em Eleanor Roosevelt (e que me lembra do nono volume da série "A princesa" - Meg Cabot que eu acabei de ler) que disse uma frase que me faz chorar, "Todos os dias faça alguma coisa que você tem medo", sim essa frase me faz chorar, não quando eu a escuto, mas sim quando eu penso profundamente sobre ela. Eu levo minha vida tão na "linha dura" que eu acabo não vivendo. Eu não gosto de sentir medo, mas eu sei que eu preciso.
Eu não gosto de chorar, mas depois que eu choro eu não me arrependo.
Eu não gosto de sentir meu coração palpitar ou minhas mãos suarem frio, mas dependendo a situação depois eu me sinto bem.
Eu não gosto de correr na chuva, mas depois que eu já estou encharcada do que eu vou me arrepender?
Acredite, eu sei que eu estou evoluindo, de ontem para hoje pelo menos eu fiz pelo menos uma coisa que me deu medo, mas... Não entremos em maiores detalhes, por que não foi tudo isso!
O negócio é que eu gostaria de ter mais situações em que eu pudesse sentir que eu sou eu mesma, pudesse me jogar, chorar, e até deixar meu coração palpitar.
O que é difícil devido a meu carisma idiota - que eu não tenho, aliás. E eu sei, desculpe se foi muito papo furado, mas meu blog também é meu ouvido de amiga, aquele que eu não tenho, entendem?
Quero deixar uma "frase" minha aqui, e se quiserem subentender... Eu deixo!

Tem coisas que não se explicam, apenas são como devem ser.
As lágrimas caem, mas eu ainda estou aqui. 

Imagem:VanessaClass'
Milhões de beijos,  e muito mais sorte na vida pra vocês.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Roxane X

Roxane acordou tarde no outro dia, abriu os olhos para o teto emoldurado e ouviu vozes em sussurro, não queria sair do aconchego de sua cama, ali estava quente, e sabia que fora dela não seria assim.
Mas não tinha escolha, o que Estella e Pauline pensariam dela? Elas tinham um ar muito esnobe, não tinha como esconder, mas Roxane iria tentar não ser levada pelas primeiras impressões.
Roxane começou a entender o que elas falavam. Algo sobre o Canadá ser o lugar mais frio do universo, era o que uma voz diferente do que ela conhecia falava.
Roxane se sentou na cama e olhou para o lado da lareira de onde vinham as vozes, parecia que suas amigas haviam se reproduzido na última noite, havia mais uma garota ali, além de Nicole Foltz; a alemã, e as gêmeas Estella e Pauline Rosseau; francesas. A outra garota era diferente, e Roxane já sabia seu nome, Judie Patel do Canadá. Ela não era extremamente magra como as outras três e não exalava simpatia como Nicole, mas também não era esnobe como as gêmeas.
Judie parecia normal. Uma garota normal, que não era a miss perfeição, Roxane deixou um suspiro de felicidade sair de seu peito, enfim ela não era mais uma garota solitária.

* * *

Parecia que as apresentações nunca terminariam naquela escola, por que logo estava Roxane vermelha de novo ao cumprimentar mais uma garota desconhecida, e Judie Patel era melhor do que ela esperava, o tipo de garota que poderia ouvi-la quando ela precisasse, e ajuda-la a levantar quando ela caísse, uma amiga, diferente da Paula que ela havia deixado no Brasil, como Johan era totalmente diferente de Evan.
- Então Rox, conte a história da sua vida. - pediu Nicole sorrindo, com um jeito tão amigo, que mesmo Roxane querendo negar, pois não conhecia nenhuma daquelas garotas direito, sabia que não poderia, não queria ser grossa. Não havia nenhuma saída.
- Coisas como eu já participei dos A.A. você não precisa nos contar - falou uma das gêmeas rindo, Roxane não conseguiu identificar se era Pauline ou Estella.
- Não, até uma freira ficaria com tédio se tivesse que viver minha vida, eu era uma garota comum, sou ainda, eu acho, tirando todas aquelas atividades extra-curriculares - todas fizeram cara de que entendiam, e Roxane sabia que sim, quase tinha certeza que todas ali, tinham que fazer coisas como, ballet, línguas, música e etcétera.
- Mas, você não tinha ninguém no Brasil tipo... Um namorado? -  É eu tinha, expressou bem querida Nicole, tinha... Pensou Roxane.
- Ou amigas... Sabe... Deixou isso pra trás e tudo mais... -  falou Judie tentando me dar uma força pra ela continuar a falar.
- Na verdade - Roxane falou, ela achou que essa seria uma boa hora de dizer a verdade, esconder de nada iria adiantar, depois só seria pior, tudo bem que seus cabelos emaranhados e sua cara amassada não ajudariam em nada, muito menos seu pijama com uma ameixa enorme na parte de trás, mas se já estavam a meio caminho andado...
- Sabe, - ela continuou - na verdade, eu tinha uma amiga, e também tinha um namorado, mas não fiquem com essas caras tristes meninas, a minha melhor amiga, a Paula, era dessas que a gente acha que vai carregar pro resto da vida, e o meu namorado, bom... A gente sempre acha que vai levar namorados pro resto da vida, mas eu o amava muito, o nome dele era Evan, e tudo bem, eu também sei que o nome dele é terrível...
- Terrível mesmo - concordou Nicole.
- Nic! Que é isso!- Estella gritou com ela.
Nicole fez uma cara de desculpa cômica, do tipo que faz os outros rirem. Mas Roxane se segurou e continuou:
- E eu amava muito os dois, tanto a Paula quanto o Evan, um dia eu convidei ele pra sair e ele não quis, eu estranhei, por que ele esta me dando muito bolo ultimamente, então fui atrás dele, e... Paula estava lá com ele - eu respirei -. Mas não como amigos entendem? Como se eu não existisse, não como minha melhor amiga, e sim com a pior traidora, eles não me viram lá aquele dia, mas eu joguei tudo na cara dela depois, terminei com ele e bom... Cortei relações, não tinha mais ninguém no Brasil, nenhuma amiga, eu sempre fui, meio...
- Tímida - Judie completou, todas olharam para ela - Eu sei como é.
Roxane não estava chorando, mas por dentro havia feridas abertas, feridas que demorariam a cicatrizar.
- Mas, meninas esqueçam isso, já passou, faz mais de um mês e tudo mais... - todas olharam para ela.
- Só um mês? - elas falaram em uníssono.
- Um mês... O pior mês da minha vida...
Roxane não sabe como aconteceu, mas de repente ela já havia sido abraçada por todas aquelas garotas como se fosse amiga delas a muito tempo. Ela passavam carinho e bondade, mostravam que queriam ajudar, até mesmo as gêmeas Rosseau. Roxane percebeu que adorou ter essas sensações, e que o Geneva College women não chegava nem perto de ser a pior coisa do mundo.

 
   Imagem:VanessaClass'


Se vocês quiserem ver os outros capítulos eles estão AQUI!.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Olhos que denunciam

O rosto dele tinha ângulos diferentes, ângulos estranhos, e de certo modo feios e atraentes ao mesmo tempo. Tinha um ar de velhice, mas de velho não tinha nada. No seu rosto sorrisos não passavam, mas seus passos eram rápidos e fortes, tudo nele tinha um ar viril. Mas ao mesmo tempo seus olhos o denunciavam, parecia um ser fraco e indeciso, que não mostrava quem era, ou o que era.
Mostrava-se uma réplica fiel de seu próprio pai, era moralmente certo, legalmente correto, e disciplinava até o último fio de cabelo. Mesmo às vezes quando queria se diluir em uma multidão ele não conseguia, não era para ele e nem para seu pai.
As palavras que de sua boca saiam, eram pensadas, elaboradas. Enquanto ele falava todos ao seu redor se calavam, talvez por medo, quem sabe respeito, ou talvez somente por que as pessoas se sentissem curiosas ao ver alguém como ele falar. A verdade é que ele ao contrário de muitos era ouvido.
E então todos seus ouvintes calados se sentiam admirados, pela forma como ele falava, pelos seus gestos bem pensados e os ângulos diferentes do seu rosto, que passava virilidade para as mulheres e para os homens coragem. O que era bom, pois quando os outros se deixavam ouvir ele se botava a falar, e tudo que dele saia, não era diferente do que as ideias da pessoa sentada ao seu lado, poderiam ser mais medíocres ainda. Mas ele era diferente, era feio e atraente ao mesmo tempo, como uma cobra venenosa, pronta para dar seu terrível bote da morte.
Depois que terminava de falar, não havia aplausos, só por que os homens não queriam humilhar a si mesmos e mulheres achavam que ninguém poderia ser superior a elas e seus vestidos beges vômitos.
Mas isso não queria dizer que por dentro delas mesmas essas pessoas não estariam pulando como cangurus australianos, elas queriam o homem com rosto anguloso, queriam ele em seus negócios, em suas camas, na sua vida.
E ele como seu pai, fez muito sucesso com mulheres de vestidos bege vômito e homens práticos que queriam o melhor para si e seus próprios bolsos. 
Todos sabiam que ele tinha um rosto atraente e ao mesmo tempo feio, mas suas palavras pensadas e elaboradas faziam todos se calarem e assim ele era ouvido. E poucas coisas são melhores do que pessoas caladas ouvindo o que você tem a falar. Com isso ganham o que poucos tem, o respeito, talvez a fama, mas ficam interessantes aos olhos de outros, e pessoas interessantes na forma de falar, na forma de escrever, na forma de olhar mostram como o mundo é grande, vasto e que todos podemos ter dias de glória.

 Imagem: Bebegarden

Gente eu sei, isso está diferente, mas eu estava andando na rua e vi um garoto e pensei, nossa eu tenho que escrever um texto sobre ele, e bom saiu isso, óbvio que não tem nada a ver com a vida dele e tudo mais, mas sobre a fisionomia saiu parecido.
Beijão gente, Alessandra.

domingo, 4 de abril de 2010

Ser criança

Alguns dizem que todos serão eternas crianças, que nunca deixaremos de rir sem motivos de brincar com coisas bobas e ser feliz quando o que deveríamos fazer é chorar.
Mas nem todos vivem assim, nem todos querem viver assim. Para algumas pessoas essa maneira de viver, ser eternamente uma criança é uma grosseria para com elas. Mas a verdade é que não é.
Cada pessoa tem sua própria maneira de viver, tem pessoas que vão morrer sendo os “crianções” da família, como vão existir aquelas que vão manter até o último fio de cabelo exatamente no mesmo lugar, como um adulto bem comportado.
São maneiras de viver, algumas vezes idiotas? Sim, algumas vezes idiotas.
Nós deixamos a nossa criança interior morrer algumas vezes por que o dia-a-dia nos estressa tanto que esquecemos de viver, de rir, enfim de ser feliz.
Nós soterramos tudo que a de bom em nós tão fundo, que às vezes fica difícil achar aquilo que nos falta, a felicidade, e algumas vezes a infantilidade, por que faz bem, tanto para os que nos cercam como para nossa alma.
Outras vezes é a vergonha, o medo de rir na hora errada de cair ao andar entre as pessoas, de dar um olhar de esgueira e ser mal entendida. A vergonha de correr, de dar um abraço apertado ou chorar quando se tem vontade. 
Quando deixamos nossa criança interior de lado, nós deixamos a melhor parte de nós, aquela que irá nos guiar quando precisarmos de sorte, que irá fazer os outros rirem quando tivermos que alegrar alguém e aquela que transmite carinho com um olhar e doçura com um beijo.
Todos temos uma criança dentro de nós. E ela é excepcional em nossas vidas, é o que irá nos fazer sentir melhor quando estivermos entrando em uma profunda depressão, e que irá nós fazer felizes quando estivermos tristes.
Nós passamos por fases em nossas vidas, e sem elas não seriamos nada, levamos com nós um pouco de cada uma ao longo da vida, as cicatrizes da infância no corpo e da adolescência na alma.
Ser criança é o que há. Ser criança faz parte, e não é nada irracional. É lindo, é natural.
O humano foi feito para ser feliz, e negócios e política não passa isso a ninguém. 
Então sorria, ame e seja criança.
Imagem: DeviantART

sábado, 3 de abril de 2010

Estrelas caem

Então eu procurei por coisas óbvias, coisas diferentes que saíssem do meu cotidiano. Nada achei.
Fiquei parada, esperando que me encontrassem, ou que me dissessem que eu deveria me mexer, mas ninguém, em todo esse mundo grande e ordinário se dirigiu a mim.
Eu não quis chorar, não me permiti, fiquei parada ali como uma estátua, uma estátua que traz sangue nas veias e respira como um humano.
Meus olhos se mantinham abertos calculando qual seria o próximo passo, se houvesse um.
A minha mente viajava a milhas de distância do ponto de partida, eu nada tentei para superá-la, e também não tentei para-la.
Escutei o ronco suave de um motor vindo em minha direção. Não era nada óbvio e também nada diferente. A brisa não vinha o sol não nascia. A lua não estava no céu, e as estrelas começavam a cair na terra.
A destruição era iminente, mas eu não conseguia me mexer, meus músculos pareciam pedra, eu estava impotente.
Eu sabia que devia continuar, e minha mente havia começado a voltar ao seu devido lugar. Aos poucos e devagar consegui sair de onde estava, não sei pra que lado eu fui, só tentava me salvar das estrelas. 
Tudo estava tão destruído que eu seria capaz de jurar que era um filme em 3D, mas minha imaginação sabia voltar ao lugar. Lutar contra estrelas era algo anormal, mas esta era a única maneira de continuar a viver. Não como pedra, nem como estátua, mas como alguém que precisa viver alguém, que ama viver.
Não sei se foi isso que fiz, não tenho muitas certezas sobre o que aconteceu depois, meu rosto no espelho não dava as respostas certas, olhei para o céu e todas as estrelas pareciam estar me olhando com ironia, e eu com medo  resolvi não falar-lhes nada. Dormi tentando esquecer o que tinha acabado de acontecer.

 

Bom, eu sei, não ficou "aquela coisa", mas hoje o dia está tão tédio total que o texto teria que sair bem abstrato mesmo.
Existe uma música maravilhosa que eu gostaria muito de compartilhar com vocês, o nome dela é Comfortable e é do John Mayer, e ela acalma até um leão, estou falando sério, é ótima. E como sempre a Alessandra aqui não achou nenhum vídeo decente, mas a música é o que tá valendo não é?



Eu não consigo me lembrar o que deu errado em setembro passado
Embora eu tenha certeza de que você me lembraria se precisasse
Nosso amor era confortável e tão à vontade
Eu amava você
De calça de moletom cinza
Sem maquiagem
Tão perfeita
Comfortable - John Mayer


sexta-feira, 2 de abril de 2010

Ela não era pura...

A memória nunca lhe falhava, e um de mil nunca era o bastante, a mente ousada era desvalorizada, e o sonho era fraco demais para sobreviver. Um dedo acima de si sabia para onde o vento soprava, e uma perna erguida nem sempre era o próximo passo. A direção era incerta as decisões nada precisas. Ela chorava por motivos indecentes, e sorria pela malícia de um olhar. Mantinha a boca fechada, com medo da dor e de algo que não fosse amor. Via folhas descendo em direção ao chão, mulheres marchando e seus seios balançando. Tinha medo da censura e de falar em chuva.
Caia de raiva e se jogava de amor.
Marcas diziam que nada poderia mudar, e crianças agarravam com força sua saia imunda e rasgada. Era aquela sua vida, a vida de alguém nada pura, às vezes imunda às vezes banhada com a luz do luar... A vida de uma mulher madura, ou quem sabe uma garota que gostava da beira do mar. Ela não era pura, às vezes era imunda e outras se banhava com a luz do luar.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

A menina e a caverna

Era uma caverna, mas não era uma caverna qualquer, ela não era escura, não era vazia, e não havia ursos ali. Havia uma luz na caverna, uma luz diferente, que não se encontra em cavernas.
Era uma menina, mas não era uma menina qualquer, ela não brincava, não pulava e não exalava felicidade. Havia tristeza na menina, uma tristeza diferente, que não se encontra em meninas.
A caverna passava seus dias parada, como cavernas fazem, se tivesse um olhar ele brilharia.
A menina caminhava devagar, diferente das meninas comuns, ela tinha um olhar... E ele era sombrio.
Certo dia a caverna viu uma sombra, ela se movia lentamente, mais devagar que uma tartaruga e mais rápida que uma lesma. A sombra se aproximava.
Certo dia a menina viu uma caverna, tão parada e tão imponente, então mais devagar que uma tartaruga e mais rápido que uma lesma resolveu se aproximar.
A caverna foi encontrada pela menina.
A menina encontrou a caverna.
A caverna sentiu cócegas, a menina havia encontrado a sua luz, onde nenhum urso e nenhum adulto jamais conseguiram chegar.
A menina viu uma luz, era linda... E parecia intocada.
A caverna continuou diferente, com sua luz incandescente.
A menina sentou e se escorou em uma pedra, onde nenhum adulto e nenhum urso poderiam encontrá-la. A pedra para ela era travesseiro, e a caverna o lugar mais confortável onde poderia estar.
Como eu disse essa menina não era uma menina qualquer...
E a caverna emanava luz, que chamava meninas de olhar sombrio.

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