domingo, 25 de abril de 2010

Casa abandonada

As gotas caiam melancólicas e tristes. Quietas, como se tivessem medo de chamar a atenção. 
A torneira não havia sido fechada, e não havia ninguém ali para fazê-lo. 
A claridade aos poucos vinha em direção de toda  ferrugem no local. Estava tudo abandonado, como se um fantasma pairasse a grande casa.
Os dias passavam lentos para a torneira medrosa, as gotas iam em direção ao chão, e de uma em uma se juntavam formando uma grande correnteza para formigas.
A porta da cozinha sem móveis aos poucos apodrecia, quem sabe o problema era os cupins ou a água indo em direção a grama que se encontrava do outro lado. Um lado do jardim descuidado era feliz, sempre tão verde, aquelas gotas banhavam as flores que ali se encontravam, a grama era viva, e crescia cada dia mais, como uma grande floresta para os insetos.
A casa abandonada começava a feder, bichos morriam ali, os ratos, por exemplo, será que morriam de velhice? Talvez, se é que ratos morrem disso.
Cobras d'água se infiltravam pelos buracos que apareciam cada vez mais em todos as velhas paredes da casa. Já tinham vivenciado tanta coisa, e agora nada mais eram do que um lixo vazio e sem sentido, mas que parava em pé.
Um dia a parte viva do jardim se assustou, o gramado se arrepiou, os insetos tentaram fugir, e os ossos imundos dos ratos, sem vida, continuaram jogados em lugares estratégicos.
Foi um grande baque, um barulho sem emoção, nada tinha a ver com a torneira pingando, era um barulho frio, mas que mesmo assim metia medo, um estouro nas paredes mortas, que logo as fizeram cair, como se tivessem culpa de alguma coisa.
Depois que tudo já estava no chão, o gramado aos poucos morreu, a parede que um dia foi um lixo em pé, não era mais que algo para se olhar e sentir tristeza.
Não existia mais a melancolia de gotas caindo, nem cadáveres de ratos, algumas cobras ainda haviam sobrevivido, mas ali não era mais seu lar. 
Os restos de tudo que havia ali aos poucos foram sendo tirados, não era mais uma casa, não tinha mais vida.
Com os dias iriam esquecer que ali havia uma casa (abandonada). Restaria só a tristeza de todos aqueles tijolos que um dia haviam sido recém-nascidos em uma olaria.

4 comentários:

  1. Texto bem elaborado.
    Tudo nessa vida tem um fim...

    ResponderExcluir
  2. me identifiquei com o texto.
    obrigado pela visita e pelas palavras, estou te seguindo tambem. boa semana pra ti.
    beijo grande.

    ResponderExcluir
  3. tão sombrio, tão intenso.. tão relevante!
    dá vontade de se entregar, a um ser totalmente deslacerado!

    parabéns.

    ResponderExcluir
  4. Tudo se esvai. Nascemos, vivemos e saimos de orbita, mas deixamos as essências, como petalas de rosas, um cheiro esquecido.
    Transformações, cujo tempo se faz decidido, fazendo a verredura desses tempos que jaz não voltam mais...

    Lindo descrição de texto
    Parabéns!

    Obrigado pela visita em
    meu jardim, volte sempre!

    Bjs
    Livinha

    ResponderExcluir

Nunca sabemos de tudo.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...