sábado, 4 de dezembro de 2010

O bege

Meu corpo não é poético, sei disso por que o corpo dela é. O corpo dela é poético, eu entendo isso por que meu corpo não é.
Ela me comove e me emociona. Ela me inspira, por isso pertence a poesia. Cada fio de cabelo dela faz uma dança ritmada com os sons ao seu redor, é um barulho oco, sem sentimento. Mas mesmo assim suas madeixas são poéticas, por que os fios tem algo que o da maioria das outras mulheres não tem: a poesia.
Já vi poesia sem sentimento, ontem mesmo enquanto escrevia notei que não era amargo nem doce, que faltava paixão, faltava ódio, faltava querer, não havia sensação ao ler aquilo, mas mesmo assim se chamava poesia. Era uma poesia neutra, uma poesia bege.
Ela tem poesia espalhada pelo corpo, eu poderia dar uma cor para ela, o que estou dizendo... Com certeza não teria como escolher apenas uma. Apenas seus cabelos seriam bege, bege amarelados como a tristeza doente de uma criança querendo viver. Seriam bege amarelados, como um chinês velho que veio para o Brasil.
Mas de suas pernas até seus olhos eu ficaria tonto com tanta cor. Minha percepção sempre foi fraca para lidar com a visibilidade, mas não ver a poesia nela, seria o mesmo que negar a vida. A vida do chinês velho, ou da criança querendo viver.
Seus pés são marrons, e não pensem que é por andar descalça. São de um marrom delicado e ela tem as unhas bem feitas. Choro as lágrimas contra isso, digo choro as lágrimas por que preciso coloca-las para fora uma hora ou outra, e prefiro que elas se gastem com o que é menos poético em seu corpo; seus pés.
Sempre tive algo contra pés, mas não me entendam mal, tem a ver com eles viverem escondidos, esconderijos me deprimem, fazem com que eu queira me esconder em mim mesma, como um casulo que precisa ser destruído.
Os pés dela são como sapatilhas, é como se estivesse incrustado nela, e mesmo descalça ela pareça elegante.  Mas não gosto que ela ande descalça, preciso protege-la, e como já disse, seus pés são delicados, precisam de cuidados.
São a base dela, por isso é o que há de menos poético nela, bases são insignificantes quando se tem alguém ao seu lado. Ela está em um pedestal, não precisa dos pés, não precisa de base.
É ironia ser o que mais me anima de  descrever em seu corpo, os pés são diferentes do normal, e seria intolerável de minha parte querer escrever sobre o resto do seu corpo.
Pensei em parafrasear um pouco sobre seu busto, mas o cabelo bege triste sempre anda por ali, quer mostrar seu poder, ele me distrai. De sua barriga flui energia como se fosse um trem sem direção, seria maldade tentar entender seu grande poder sobre mim.
A virilha até me passou pela cabeça, mas quem sou eu? Difícil demais para minha pouca idade, existe muita sensualidade para que eu queira mostrar sem sentir.
Seu corpo é poético, e por todos os seus poros flui energia, ele é um trem, um trem sem direção, bege amarelado.

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