segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Dois L's para contar história

A cabeça de Luísa estava a mil, falar ou não falar? As mãos suavam, o corpo tremia todo. Uma grande decisão a tomar, grande demais para ela que era tão pequena. Ele vinha se aproximando, o garoto que ouvia todos os seus problemas, todos os seus medos, ele viu as maiores alegrias de Luísa, estava ali quando ela sofreu pelo primeiro amor, quando tomou bomba em matemática e chorou ao cair de bicicleta. Brincadeiras, sorrisos, abraços e mil histórias para contar, uma amizade antiga, e ao mesmo tempo tão presente.
- Oi Luísa, tenho uma coisa para te contar - foi a primeira coisa que ele disse ao vê-la, quando na verdade, ela é que tinha o chamado ali para dizer o quanto o amava - você estava com uma voz estranha no telefone, achei que tinha acontecido alguma coisa.
- Não, não aconteceu nada, mas, por favor, Léo, fala o que você tem pra falar antes, eu insisto, e quando eu quero, eu consigo, você sabe.
- Tudo bem, eu falo, eu falo - ele hesitou, pegou um pouco de ar e continuou - estou namorando com a Rita - ele expressou com aqueles olhos verdes, que esperava dela pulos de alegria, ou algo do tipo.
Mas ela engoliu em seco, aquilo doeu mais do que levar um tapa por algo que não tinha motivo. Seu olhar desiludido a entregou.
- O que foi Lu? Aconteceu alguma coisa? - a voz dele era preocupada e desapontada.
- Não, não, nada, imagina - lutou contra as lágrimas, e não deixou seus olhos nem ao menos marejarem com aquele triste acontecimento - que maravilha isso, ela é tão bonita, tão loira, tão perfeita... - suas últimas palavras foram ditas tão baixo que ele não ouviu.
- Que bom que gostou, estou louca para apresentar vocês duas, um dia a gente pode sair juntos, tomar um sorvete, ou ir ao cinema... Se você quiser claro - ali ela percebeu como é incrível alguns homens não notarem absolutamente nada - mas, o que você tinha para me contar?
- Nada Léo, nem era assim tão importante, esquece isso - ela falou com um tom de verdade que nem sua própria mãe iria notar a tristeza de suas palavras.
- Você tem certeza? - ele ergueu as sobrancelhas para aquelas mentiras que passaram despercebidas.
- Claro que tenho, vamos dar uma volta? - ela sorriu, um sorriso amarelo, sem forças sem convicção.
- Claro, mas tenho que voltar logo para a casa, vou sair com Rita.
- Sem problemas - ela virou o rosto para esconder os olhos dessa vez brilhando com as lágrimas que estavam prestes a descer.
À noite, na sua cama antes dormir, olhando para o teto Luísa percebeu que não tinha para quem contar seus problemas. Seu único amigo, seu único amor, já tinha alguém com quem partilhar decepções e alegrias. Lágrimas molharam seu travesseiro, e ela ficou ali, ao som de uma solidão extremamente barulhenta, que fazia sua mente borbulhar pelos destroços de um coração partido. Uma, duas horas passaram, já era de madrugada quando ela adormeceu, e com somente uma coisa em sua mente: iria esquecê-lo.
A manhã seguinte chegou, era um domingo. À tarde seus pais saíram, e ela ficou sozinha em casa, pronta para se lamentar de sua terrível vida, dois toques na porta fizeram ela se levantar do sofá e encarar a vida.
- Calma, já estou indo - ela gritou da cozinha, onde acabava de deixar seu brigadeiro.
Abriu a porta e encontrou ali a pessoa que fizera ela sentir a dor de um amor não correspondido. Leonardo.
- Oi Lu, eu tentei te ligar, mas você não atendeu, pensei que podia estar em casa, resolvi dar uma passada pra ver se estava tudo bem - e esse era o problema de ser vizinha da pessoa que se gostava. Ela tentou não demonstrar o que sentia, mas foi difícil.
- Hmmm, oi, eu, bom... - ela travou, ela nunca travava com ele. Ele era a pessoa que mais a entendia que mais a escutava que sabia absolutamente tudo sobre ela.
- O que aconteceu Luísa? Você andou chorando?- ele a olhou com mais calma - Seus olhos estão inchados, me fala, o que está acontecendo! - ele exigiu uma resposta.
- Nada, é que, bom, umas coisas ai - ela sentou no sofá e virou o rosto para a parede, ela estava vermelha, dessa vez encabulada, por medo de falar o que sentia.
- Umas coisas ai? Não existe nenhum segredo entre nós esqueceu? - ele sentou ao lado dela, e delicadamente com a mão direita foi puxando seu rosto e virando-o para seu lado.
Lágrimas desciam e passeavam tortas e incompreensíveis pelas bochechas dela. Ele estava aflito para saber o que se passava, mas nada foi dito por ela.
- Pode me dizer o que aconteceu? - a voz dele saiu rouca e para quem prestasse mais atenção um pouco nervosa.
- É que... - ela parou e olhou para baixo, não sabia se conseguiria dizer isso olhando em seus olhos, ergueu a cabeça novamente, teria que enfrentar - eu acho que eu te amo.
As palavras foram sopradas para os ouvidos de Leonardo, e pairou lentamente na sua cabeça, o fazendo flutuar. Seu olhar poderia ter vagado por mil anos luz, mas ainda estava exatamente ali.
- Eu só queria que você soubesse que eu vou ficar bem, e mesmo te amando e sofrendo por você, eu te entendo, a Rita é uma boa garota e...
Ele deu um grande beijo nela, ela correspondeu, mas parou, botou as mãos em seus ombros e o empurrou levemente.
 - Sabe, eu não gosto de ser a outra - mais lágrimas, aquele beijo a faria sofrer mais ainda - por que você me beijou?
- Luísa, eu terminei com a Rita, não dava certo, quando eu contei para você eu vi a decepção em seus olhos, percebi que você importa bem mais que ela, você é a única garota que me compreendeu, e eu espero nunca te perder. Ontem eu percebi que eu te amo...
Eles se abraçaram forte em cima do sofá de Luísa, as paredes viram tudo, e o abajur poderia ter ligado tamanha era a energia presente ali. Folhas caíram de árvores fora da casa, e flores desabrocharam. Pétalas foram embora com a correnteza, e alguém pulou uma onda no mar. Mas tudo não passa do processo natural das coisas. Um beijo, algumas promessas, e dois L's para contar história.


Imagem: Google

4 comentários:

  1. Lindo demais! Sinceramente eu pensei que a Lu ia acabar o dia chorando por ter perdido um amor e um amigo ao msmo tempo =P
    adoreii o final da historia caran

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  2. Ai, menina, que bonitinho teu texto. O titulo do post ficou tão misterioso. ^^ Adorei, adorei mesmo. :)

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Nunca sabemos de tudo.

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