domingo, 30 de maio de 2010

Jazida ao chão da imponente Torre Eiffel

A torre estava ali, na sua frente, e tudo que Regina conseguia sentir era raiva. Raiva de Paris, por ser tão distante do Brasil, raiva de Henri por não ter ido encontrá-la e raiva de si mesma por ser tão ingênua e boba.
A torre ainda estava ali, tão imponente e forte, um abuso de poder contra o mundo, contra todos que iam à França para ver ferro e aço.
Olhando para a Torre Eiffel Regina se arrepiou, amoleceu um pouco diante da força de algo tão prepotente, algo tão velho e ao mesmo tempo maravilhoso.
A torre era linda, Regina nunca poderia negar, o ponto mais alto era distante, mas não tanto quanto onde sua mãe morava.
A saudade fez Regina se sentir fraca, e não pela primeira vez. Achou que a viagem à França seria uma das coisas mais maravilhosas que poderia vir a fazer, mas se enganou, estava ali, grávida de quase três meses, fugida de casa, tentando encontrar um francês chamado Henri Tissot, que passou as férias com a família no Brasil.
Havia se virado mais do que pensou que poderia para chegar a Paris, fugiu de casa pegando todo o dinheiro que a mãe havia guardado durante anos para sua faculdade, chegou a França e depois quando procurou Henri pensou que finalmente iria conseguir, mas quanto engano, ele não quis falar com ela.
Regina não tinha onde ficar, não sabia para onde ir, e só depois que conseguiu falar com o pai de Henri, Giulio, falando que estava grávida, é que ele quis recebê-la.
Não recebe-la literalmente, mas cuida-la, os Tissot eram uma família rica, e Giulio poderia arcar com todas as despesas de Regina, o que era uma benção, pois ela não tinha onde passar a noite e nem um mísero dinheiro. Depois de conversarem por um longo tempo em uma mistura exótica do português enrolado de Giulio e do escasso francês de Regina, ele decidiu que ela escolhesse um lugar de Paris onde poderiam encontra-la e ela pediu que fosse na Torre Eiffel. Que era uma bela escolha segundo Giulio.
Agora Regina estava ali, esperando que pelo menos fosse Henri que a encontrasse, mas bem no fundo ela sabia que não seria. Ele era educado ela não poderia negar, mas o medo de encontrá-la era maior. Os pensamentos de Reina vagavam, havia tanto a temer, sua mente começou a girar.
A dor inundou seu ventre. O seu bebê estava ali, pedindo socorro, sangue escorreu por entre suas pernas, e ela se sentiu sem forças para continuar em pé.
Gritou alto, com dor e medo.
- Socorro - as lágrimas desciam pelas bochechas agora pálidas de Regina - Por favor, me ajudem!
A bolsa que ela carregava no braço estava caída no chão e a do ventre não estava mais intacta.
Ela não conseguia mais gritar, aos poucos foi ficando inconsciente e enfim desmaiou. Uma brasileira, grávida, jazia agora ao chão de Paris, aos pés da Torre Eiffel.
Acordou com o olhar embaçado, e aos poucos foi tomando consciência do que se passava ao seu redor, ela não estava sozinha, estava em uma cama e na melhor das hipóteses um hospital.
- Você está bem? - perguntou uma voz em um falho português, um homem se aproximou aos poucos de Regina, havia nele algo conhecido, seu olhos se acostumaram com a luz e ela percebeu que aquele era Henri, o odioso Henri! - Te achei caída no chão e te trouxe para o hospital.
- Henri? É você Henri? - ele a olhou com um olhar tenro, não era o olhar de Henri, eram os mesmos olhos, mas não o mesmo olhar - e o meu bebê? Como está meu bebê?! Onde eu estou?
Lágrimas caiam de seus olhos, manchando seu rosto pequeno e pálido.
- Ele não sobreviveu Regina, ele faleceu - ele baixou a cabeça - eu não sou Henri, sou o irmão dele, Pierre. Era para mim te encontrar, mas não te achei na frente da Torre, você estava do outro lado, caída no chão, procurei documentos na sua bolsa, mas já sabia que era você, era o mesmo rosto angelical que Henri havia descrito... Você está em um hospital Regina.
Regina se pos a chorar, ele não havia ido ali nem para vê-la, saber como ela estava. A situação de Regina era lastimável, e Pierre, o irmão de Henri estava ali, um ser tão diferente de seu irmão abominável.
- Ele não veio me ver? - Regina sussurrou.
- Não Regina, ele não veio - Pierre falou envergonhado.
Regina sentiu náuseas, que sorte seria se tivesse encontrado Pierre no Brasil, e não o ordinário de seu irmão. Que voltas que a vida dava, se achava em um hospital parisiense, sem o filho que já amava, com o irmão do homem que achava que amava.
- Eu não tenho nem para onde ir - Regina soluçou fraca.
- Não se preocupe Regina, você não vai precisar pedir ajuda para mais ninguém, muito menos para meu irmão, vou te cuidar, você vai para minha casa, longe de Henri, longe de meu pai. Eles são idênticos, não tem o que tirar nem por.
Regina olhou para ele, e viu verdade em sua expressão viu verdade em seus olhos castanhos purificados, longe da malicia que inundava o mundo.
Mais lágrimas caíram por entre sua pálpebras, mas ela tinha agora ao menos uma certeza: poderia contar com alguém.

Pauta para: Bloínquês
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Eu sei gente, ficou gigante, mas segundo meu cérebro anormal ficou bem legal - eu acho né.

Beijos, Alessandra.

5 comentários:

  1. Sorte da Regina, poder recomeçar com o apoio de alguém. Uma lição também para ela.

    BeijooO'

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  2. Paris és tão romântico,
    gostaria muito de conhecer a Torre :)


    um bj querida!

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  3. 'o meu também deve ser anormal então'

    Gostei muitissimo do escrito. Envolvente. Na medida. Perfeito. Embora seja triste eu gostei mesmo.

    Grande Beijo

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  4. Histórias assim acontecem de verdade, e é isso que eu acho bacana em escrever. Poder contar verdades, nem que sejam as suas próprias. beijos flor! Essa é primeira vez que venho aqui e gostei.

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Nunca sabemos de tudo.

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