sábado, 6 de março de 2010

Roxane II


O silêncio atravessa as paredes do quarto lilás, embrenhava-se como uma cobra, e lentamente enrolava Roxane em um sono profundo, o manto negro da escuridão do céu cobria todos os móveis, todas as janelas.
Ela não acordaria ao nascer do sol, as cortinas bem fechadas mostravam isso. Um leve sorriso passeava pelo rosto da sonhadora Roxane. Alguns grandes fios de cabelos castanhos se espalhavam pelo quarto, tudo tinha um pouco dela, os quadros nas paredes eram leves, paisagens de uma garota que queria o mundo.
Quando o sol finalmente nasceu, Roxane ainda estava lá, deitada em um sono profundo.  A manhã não prometia nada de novo para Roxane; nada que a faria suspirar.
Ela não acordou quando duas pessoas acordaram no quarto ao lado, nem quando o chuveiro foi ligado. Ela não acordou com os passos na escada, e nem com os carros passando na rua. Ela ainda não havia acordado quando a porta do seu quarto se abriu, e só deu um leve gemido quando as cortinas beges deixaram a luz solar entrar.
- Rox, vamos logo, ou você vai se atrasar - a tão conhecida voz de Margo a acordou, aquela com a qual ela convivia a dezesseis anos.
Roxane afundou a cabeça no travesseiro, eram assim todas as manhãs, mais um dia que teria que viver.
- Roxane levante logo, vamos menina, sua mãe vai ficar uma fera se você não se apressar – Roxane enfim cedeu, sabia que Margo não ficava muito feliz com sua preguiça que ela chamava ao acaso de exagerada.
Sentou na cama com os cabelos desembrenhados e abriu seus olhos verde grama para a realidade. Suspirou profundamente e levantou.
- Margo, o que temos para hoje? – Roxane ironizou como sempre sua agenda do dia.
- Nada – ela falou como se aquilo fosse normal, mas não era.
- Pára, como se pudesse ser perfeito desse jeito, de manhã escola, óbvio... – ela se olhou no espelho e fez um bico exagerado.
- Hoje é sábado Roxane, nada de escola. Nada de ballet, nada de inglês e francês, nem almoços com os amigos de seus pais. Nada de viagens, nada de piano ou hipismo, nada de nada. Só descanso.
Roxane virou bruscamente para a “empregada”, se é que se podia chamar ela assim.
- Nada de... Nada? – ela estava boquiaberta. – Nem recuperação?
- Você quer que eu... – mas antes de ela terminar a frase Roxane estava pulando em cima dela aos gritos.
- Dia livre, eu nem acredito – ela beijou Margo sem cessar – eu acho que a última vez que isso aconteceu eu devia ter o quê... Um ano?
Ela riu com vontade, Margo riu junto.
- Calma menina chega disso, se arrume e vá lá embaixo para tomar o café, e ligeiro... – e falando isso saiu rapidamente do quarto, sem esperar respostas.
Roxane se arrumou quase voando, como se sua vida dependesse de quanto ela demoraria.
Seu pai sentava imponente no canto da mesa, e sua mãe ao lado demonstrava o de sempre, a odiada distancia. Os dois deram um ligeiro bom dia quando ela chegou, e seu pai largou o jornal para olhá-la, ela mastigou a torrada que estava comendo esperando o que estaria por vir.
Roxane não tinha nada dos traços de seu pai, Olavo. Ele tinha olhos azuis, e cabelos loiros platinados, que agora aos poucos sumiam dando lugar a uma ligeira careca. Sua mãe, Débora tinha cabelos e olhos pretos, uma pele morena. E suave como a de um bebê.
Com o passar dos anos Roxane parou de perguntar a si mesma como tinha olhos verdes e cabelos castanhos. A resposta que ela achou foi que deveria ter algum parente assim. Pois não havia pessoas mais diferentes do que os três juntos. Olavo, Débora e Roxane. 
 



4 comentários:

  1. Uma surpresa, tenho que dizer. Adorei o conto, as duas partes me prenderam do início ao fim, Roxane tem a vida que seus pais sonharam mesmo estando longe de seus pais. Muito criativo e cada detalhe me fez imaginar as cenas, lindo, lindo! Beijos

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  2. Eu sabia que ia valer a pena ler a segunda parte.
    Ameeei *--*
    Me surpreendeu.
    Bjs

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  3. Belo conto, Alessandra! Li as duas partes e, realmente, elas prendem nossa atenção do início ao fim. Interessante... os pais da Roxane quiseram o melhor para a filha. Mas, partindo do trecho "...e sua mãe ao lado demonstrava o de sempre, a odiada distancia...", penso que a vida de Roxane ali (junto a Olavo e Débora), não fosse o "melhor" idealizado por eles (pais biológicos) que, não tendo a exata noção, já tinham o melhor a ser dado para ela: Amor, de verdade!

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  4. Adorei o conto ^^ UHUIDAHSD ela acorda com mesmo entusiasmo que eu acordo todos os dias '-'
    iuhdiuasdhiudhsiauhds

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Nunca sabemos de tudo.

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